QUADRAS
Por
Ramon de Campoamor
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Causas-me tanto pesar,
Que cheguei a compreender
Que muito me deve amar
Quem tanto me faz sofrer.
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Absorto em ti, neste enleio
Só no teu amor eu cri,
Mas agora em nada creio
Desde que não creio em ti.
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O mesmo amor ela tem
Do que a morte, a quem as ama:
Vem se ninguém a chama,
Se alguém a chama - não vem.
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Não te tenho que pagar,
Nem me ficas a dever;
Se eu te ensinei a amar,
Tu ensinaste-me a esquecer.
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Quando passas a meu lado
Sem me olhares, envergonhada,
Não te lembras de mim nada,
Ou lembras-te demasiado?
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Louca por mim te afiguras,
Mas escuta os que te advertem
Que não fazes mais loucuras
Que aquelas que te divertem.
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Outrora, no meu desejo,
Mesmo sem olhar te via;
Passou tempo... e hoje em dia,
Mesmo a olhar-te, não te vejo.
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Pensando que hei de morrer
A tal desventura chego
Que como um morto me entrego
À alegria de viver.
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Mesmo contente, se vê
Que uma pena em mim se esconde
Que a sinto não sei bem onde
E nasce de não sei que.
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Dizia eu, de amor louco:
Sofrer tão pouco por tanto!
E disse, ao perder o encanto:
Sofrer tanto por tão pouco!
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Sempre a dor e sempre o bem
São como espinhos e flores.
Por cada prazer cem dores,
Por cada dor outras cem.
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Meu desejo é desejar
Mais que alcançar o que quero,
E melhor do que o que espero
O que espero é - esperar.
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Se entre ser e não ser
Tivesse o homem escolhido,
Claro está - teria sido
O não poder escolher.
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Que me perdoe o eterno,
Mas não sei qual é maior,
Se aquela dor do inferno,
Se este inferno de dor.
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BREVE BIOGRAFIA
Ramon de Campoamor y Campo Osório, poeta espanhol, nasceu em Navia em 1824 e morreu em Madrid em 1901. Foi muito novo para a capital, onde começou a publicar no "El Laberinto" várias poesias (1844). Em 1859 publicou o jornal "El Estudo", no qual sustentou brilhantes polêmicas de Castelar. A sua personalidade como político e filósofo é, no entanto, secundária quando comparada com a sua personalidade poética, sendo verdadeiras jóias literárias, algumas das suas obras. Publicou: "Fábulas", "Doloras", "Os poemas de Colombo|" e o "Drama Universal", os "pequenos Poemas, "As Humuradas", as "Lendas" e outras composições. Para o teatro escreveu algumas obras, sendo as mais aplaudidas "O Palácio da Verdade" e "A Guerra".
Nicéas Romeo Zanchett
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