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quarta-feira, 28 de maio de 2014

VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA - Manuel Bandeira


VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
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Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei 
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
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Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana, a louca de Espanha, 
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive. 
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo, 
Subirei no pau de sebo, 
Tomarei banhos de mar! 
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu-menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada.
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Em Pasárgada tem de tudo,
é outra civilização.
 Tem um processo seguro
De impedir a concepção. 
Tem telefone automático, 
Tem alcaloide à vontade, 
Tem prostitutas bonitas
Pra gente namorar. 
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E quando eu estiver mais triste,  
Mais triste de não ter jeito, 
Quando a noite me der 
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei - 
Terei a mulher que quero 
Na cama que escolherei.
Vou-me embora pra Pasárgada. 
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 Manuel Bandeira 
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