NÃO ME DEIXES!
Por Gonçalves Dias
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Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava...
"Ai, não me deixes, não!"
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"Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares à amplidão:
Límpido ou turvo, te amarei constante;
Mas não me deixes, não!"
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E a corrente passava; novas águas
Apos as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"
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E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde
"Ai, não me deixes, não!"
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Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava ainda a corrente por dizer-lhe
Que não a deixasse, não.
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A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
" Não me deixaste, não!"
BREVE BIOGRAFIA
Antonio Gonçalves Dias, poeta brasileiro, nasceu em Caxias, Maranhão a 10 de Agosto de 1823, e faleceu a 3 de Novembro de 1864 no naufrágio do Ville de Boulogne. Escreveu: Primeiros Contos, 1846; Segundos Contos e Sextilhas de Frei Antão, 1848; Os Timbiras, 1848; Últimos Contos, 1850; Leonor de Mendonça (drama); Boabdil (drama), 1865; etc.
Nicéas Romeo Zanchett
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