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quarta-feira, 28 de abril de 2021

A LAGOA DOS AMORES - Por Bruno Seabra

 



A  LAGOA DOS AMORES 

Era uma vez, alta noite, 

Nas horas do ressonar, 

Caminhava um marinheiro 

Pelas encostas do mar, 

Esta cantiga cantando, 

Capaz de fazer chorar. 

.

"No oceano da existência

Marinheiro viajei, 

Dentro da gentil lagoinha 

Que mocidade chamei, 

Onde eu era todo ufano 

Como em seu palácio um rei. "

.

"Era piloto  a Esperança 

Da barquinha tão gentil, 

Toda  pintava de listras 

Cor de Rosa, cor de anil,

Singrado, como a gaivota 

Entre as ondas, senhoril."

.

"Quando as velas se entufavam  

Das brisas do Norte ou Sul, 

Era a barquinha uma garça

Pairando num lago azul; 

Nunca um Doge de Veneza

Teve um batel mais taful. " 

.

"Sulcando os mares da vida, 

Parece que a vejo assim; 

Sorrindo a esperança do leme,

Sorrindo a esperança pra mim

Docemente reclinado

Das crenças no camarim. "

.

" E quando o mar se encrespava 

A peso do furacão

Vogava aquela barquinha 

Qual outra nunca vi, não; 

Sem ouvir a voz de - voga!

Do piloto ou capitão. "

.

"Na calmaria ou remanso, 

Na vazante ou preamar, 

Quando a barca adormecia  

Das ondas ao murmurar, 

Eu da proa assim cantava 

Para a barquinha acordar:

"- Desperta, gentil barquinha, 

Que a procela pode vir, 

Pode o - Porto Futuro 

À nossa vista encobrir; 

Voga, voga, Mocidade, 

Busca as praias do - Porvir!"

"E a barquinha despertava, 

E, rompendo a calmaria, 

Singrava sobre o remanso

Como se fosse em porfia;

Mas, um dia... oh! bem me lembro

Dos cachopos desse dia! "

.

"Na lagoa dos amores

A barquinha navegou, 

Sopra o vento contra a popa, 

E a coitada naufragou! 

Piloto que a pilotava 

Nunca tão mal pilotou!..."

.

"Parte a quilha contra as rochas, 

Das ondas ao escarcéu

Assombrou-se a Mocidade, 

E o piloto pereceu!

O capitão deu na costa 

Do - Futuro que perdeu..."

.

"Foi ter naufrago nas praias 

Das - desilusões de amor, 

Quase morre de fadiga, 

Da tormenta no rigor, 

Arribando noutro porto 

O triste navegador!"

.

"Bateleiro sem barquinha 

Não pode mais viajar; 

Marinheiro que naufraga 

Não deve mais navegar; 

Adeus, lagoa de amores, 

Não posso mais embarcar!"

.

"Assim cantava alta noite, 

Nas horas do ressonar, 

Caminhando um marinheiro 

Pelas encostas do mar; 

Não é mais triste a cantiga

Do que era o triste cantar."

.

BIOGRAFIA DO AUTOR

Bruno Seabra, literato e poeta brasileiro, nasceu no Pará em 1837. Autor de Flores e Frutos, aninhas e sertanejos. Morreu em 1876. 

Nicéas Romeo Zanchett 

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