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domingo, 4 de abril de 2021

AMOR E MEDO por Casimiro de Abreu

 


Casimiro de Abreu

Casimiro José Marques de Abreu, poeta brasileiro, nasceu em S. João da Barra, na então província do Rio de Janeiro, a 4 de Janeiro de 1837, e faleceu a 18 de Outubro de 1860. A sua vocação de poeta foi tenazmente contrariada por seu pai. Esta oposição teve uma influência nefasta na sua saúde já combalida; em uma viagem que fez a Lisboa pouco lhe aproveitou. Escreveu: Canções do Exílio ( 1854); As Primaveras (1859); Camões e o Jau, cena dramática; dois romances: A Virgem Loura e Camila, que deixou inédito. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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AMOR E MEDO
I
Quando eu te fujo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela, 
Contigo dizes, suspirando amores: 
"- Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
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Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo, 
E se eu te fujo é que te adoro louco...
 Es bela - eu moço; tens amor - eu medo!...
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Tenho medo de mim, de ti, de tudo, 
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes, 
Das folhas secas, do chorar das fontes, 
Das horas longas a correr velozes. 
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O véu da noite me atormenta em dores, 
A luz da aurora me entumece os seios, 
E o vento fresco do cair das tardes 
Eu me estremeço de cruéis  receios, 
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É que esse vento que na várzea - ao longe, 
Do colmo o fumo caprichoso ondeia, 
Soprando um dia tornaria incêndio 
A chama viva que teu riso ateia! 
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Ai! se abrasado crepitasse o cedro, 
Cedendo ao raio que a tormenta envia, 
Diz: - que seria da plantinha humilde 
Que à sombra dele tão feliz crescia? 
A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho, 
E a pobre nunca reviver pudera
Chovesse embora paternal orvalho! 

II
Ai! se eu te visse no calor da sesta, 
A mão tremente no calor das tuas, 
Amarrotado o teu vestido branco, 
Soltos cabelos nas espáduas nuas!...
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Ai! se eu te visse, Madalena pura, 
Sobre o veludo reclinada a meio, 
Olhos cerrados na volúpia doce, 
Os braços frouxos - palpitante seio!...
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Ai! se eu te visse em languidez sublime, 
Na face as rosas virginais do pejo, 
Trêmula a fala a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
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Diz: - que seria da pureza d'anjo, 
Das vestes alvas, do candor das asas? 
- Tu te queimaras, a pisar descalça,
- Criança louca, - sobre um chão de brasas! 
No fogo vivo eu me abrasaria inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucara com meu dedo impuro 
As pobres flores da grinalda virgem!
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Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra, 
E tu serias no lascivo abraço
Ajo enlodado nos países da terra.
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Depois... desperta no febril delírio, 
- Olhos pisados - como um vão lamento, 
Tu perguntarás: - que é da minha corôa?...
Eu te diria: - Desfolhou-a o vento!...
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Oh! não me chames coração de gelo! 
Bem vês: traí-me no fatal segredo. 
Se de ti fujo, é que te adoro e muito, 
És bela - eu moço; tens amor, eu - medo!...
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Nicéas Romeo Zanchett 
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