Casimiro de Abreu
Casimiro José Marques de Abreu, poeta brasileiro, nasceu em S. João da Barra, na então província do Rio de Janeiro, a 4 de Janeiro de 1837, e faleceu a 18 de Outubro de 1860. A sua vocação de poeta foi tenazmente contrariada por seu pai. Esta oposição teve uma influência nefasta na sua saúde já combalida; em uma viagem que fez a Lisboa pouco lhe aproveitou. Escreveu: Canções do Exílio ( 1854); As Primaveras (1859); Camões e o Jau, cena dramática; dois romances: A Virgem Loura e Camila, que deixou inédito.
Nicéas Romeo Zanchett
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AMOR E MEDO
I
Quando eu te fujo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
"- Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
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Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se eu te fujo é que te adoro louco...
Es bela - eu moço; tens amor - eu medo!...
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Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes,
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
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O véu da noite me atormenta em dores,
A luz da aurora me entumece os seios,
E o vento fresco do cair das tardes
Eu me estremeço de cruéis receios,
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É que esse vento que na várzea - ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!
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Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia,
Diz: - que seria da plantinha humilde
Que à sombra dele tão feliz crescia?
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A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho,
E a pobre nunca reviver pudera
Chovesse embora paternal orvalho!
II
Ai! se eu te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas!...
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Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos - palpitante seio!...
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Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
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Diz: - que seria da pureza d'anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
- Tu te queimaras, a pisar descalça,
- Criança louca, - sobre um chão de brasas!
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No fogo vivo eu me abrasaria inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
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Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço
Ajo enlodado nos países da terra.
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Depois... desperta no febril delírio,
- Olhos pisados - como um vão lamento,
Tu perguntarás: - que é da minha corôa?...
Eu te diria: - Desfolhou-a o vento!...
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Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo, é que te adoro e muito,
És bela - eu moço; tens amor, eu - medo!...
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Nicéas Romeo Zanchett
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