Gentil Homem de Almeida Braga
O ORVALHO
Nas flores mimosas, nas folhas virentes
Da planta, do arbusto, que surge do chão,
Reúnem-se as gotas do orvalho nitentes,
Tombadas à noite da aérea solidão.
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Provindas dos ares, dos astros caídas
Em globos argentos de um puro brilhar,
Descansam nas flores, às folhas dão vida,
Remontam-se aos astros, erguendo-se ao ar.
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A luz das estrelas, do vidro mais fino
O trêmulo, incerto, brilhante luzir,
Não tem maior beleza, fulgor mais divino,
Nem pode mais claro, mais belo fulgir.
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E o sol, que rutila no manto dourado,
Feitura sublime das nuvens do céu,
Beijando estas gotas com um beijo inflamado,
Desfaz tais prodígios nos beijos que deu.
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Quem foi que as vertera, quem foi que as chorara,
Quem, límpido orvalho, do céu vos lançou?
Quem pôs sobre a terra beleza tão rara?
Quem foi que nos ares o orvalho formou?
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Dos anjos, que outrora baixaram da esfera,
Morada longínqua dos anjos de Deus,
São prantos o orvalho, que amor os vertera,
Depois que perdidos volveram-se aos céus.
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Baixados à terra, sedentos de amores,
Gozaram delícias de um breve durar.
Depois em lembrança dos tempos melhores
Os anjos à noite costumam chorar.
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E o pranto saudoso dos olhos vertido
Converte-se em chuva de fino cristal;
Procura das flores o cálix querido,
Recai sobre as plantas do monte ou do val.
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E os anjos sozinhos vagueiam no espaço,
Buscando as imagens, que o céu lhes roubou,
Seguidos das nuvens, do lúcido traço,
Que o brilho das asas trás eles deixou.
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E a voz que dos lábios lhes sai suspirante
Semelha um queixume pungente de dor.
E o ar, que circula girando incessante,
Repete os suspiros só filhos do amor.
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Em vão tai suspiros, tão tristes endeixas,
Pesares tão fundos são todos em vão.
Ninguém os escuta; carpidos ou queixas
Vai tudo sumido na etérea solidão.
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E os anjos, que outrora viveram de amores,
Gozaram delícias de extremos sem par,
Saudosos relembram seus tempos melhores
E tem por consolo seu triste chorar.
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E o pranto saudoso dos olhos vertido
Converte-se em chuva de fino cristal;
Procura das flores o cálix querido,
Recai sobre as plantas do monte ou do val.
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BREVE BIOGRAFIA
Gentil Homem de Almeida Braga, poeta e jornalista brasileiro, nasceu em São Luiz do Maranhão a 25 de Março de 1835 e faleceu a 25 de Julho de 1876. Formou-se em direito na Faculdade de Recife. Foi advogado, lente de retórica e filosofia e deputado provincial de geral. As suas poesias acham-se coligidas nas "Três Liras", 1872; e no "Parnaso Maranhense".
Nicéas Romeo Zanchett
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