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sexta-feira, 12 de julho de 2013

O ORVALHO - Por Gentil Homem de Almeida Braga

Gentil Homem de Almeida Braga 
O ORVALHO
Nas flores mimosas, nas folhas virentes
Da planta, do arbusto, que surge do chão, 
Reúnem-se as gotas do orvalho nitentes, 
Tombadas à noite da aérea solidão. 
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Provindas dos ares, dos astros caídas 
Em globos argentos de um puro brilhar, 
Descansam nas flores, às folhas dão vida, 
Remontam-se aos astros, erguendo-se ao ar. 
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A luz das estrelas, do vidro mais fino
O trêmulo, incerto, brilhante luzir, 
Não tem maior beleza, fulgor mais divino, 
Nem pode mais claro, mais belo fulgir. 
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E o sol, que rutila no manto dourado, 
Feitura sublime das nuvens do céu, 
Beijando estas gotas com um beijo inflamado, 
Desfaz tais prodígios nos beijos que deu.
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Quem foi que as vertera, quem foi que as chorara, 
Quem, límpido orvalho, do céu vos lançou? 
Quem pôs sobre a terra beleza tão rara? 
Quem foi que nos ares o orvalho formou? 
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Dos anjos, que outrora baixaram da esfera, 
Morada longínqua dos anjos de Deus, 
São prantos o orvalho, que amor os vertera, 
Depois que perdidos volveram-se aos céus.
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Baixados à terra, sedentos de amores, 
Gozaram delícias de um breve durar. 
Depois em lembrança dos tempos melhores
Os anjos à noite costumam chorar. 
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E o pranto saudoso dos olhos vertido
Converte-se em chuva de fino cristal;
Procura das flores o cálix querido, 
Recai sobre as plantas do monte ou do val.
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E os anjos sozinhos vagueiam no espaço, 
Buscando as imagens, que o céu lhes roubou, 
Seguidos das nuvens, do lúcido traço, 
Que o brilho das asas trás eles deixou. 
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E a voz que dos lábios lhes sai suspirante
Semelha um queixume pungente de dor. 
E o ar, que circula girando incessante, 
Repete os suspiros só filhos do amor. 
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Em vão tai suspiros, tão tristes endeixas, 
Pesares tão fundos são todos em vão. 
Ninguém os escuta; carpidos ou queixas
Vai tudo sumido na etérea solidão. 
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E os anjos, que outrora viveram de amores, 
Gozaram delícias de extremos sem par, 
Saudosos relembram seus tempos melhores 
E tem por consolo seu triste chorar. 
.
E o pranto saudoso dos olhos vertido 
Converte-se em chuva de fino cristal; 
Procura das flores o cálix querido, 
Recai sobre as plantas do monte ou do val. 
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                 BREVE BIOGRAFIA 
                  Gentil Homem de Almeida Braga, poeta e jornalista brasileiro, nasceu em São Luiz do Maranhão a 25 de Março de 1835 e faleceu a 25 de Julho de 1876. Formou-se em direito na Faculdade de Recife. Foi advogado, lente de retórica e filosofia e deputado provincial de geral. As suas poesias acham-se coligidas nas "Três Liras", 1872; e no "Parnaso Maranhense". 
Nicéas Romeo Zanchett 
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