IMORTAL
Por Alberto de Oliveira
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Não ser eterna a tua formosura!
Essa marmórea tês, essa marmórea
Presença tua, teu olhar tão doce,
Teus rubros lábios, tua coma escura,
Tudo o que em ti traduz a pompa, a glória
Da mocidade, tudo eterno fosse!
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Do tempo a mão sacrílega poupasse
De teus contornos o supremo encanto,
A linda ideal, que me arrebata agora;
Ficasse a mesma tua ebúrnea face,
Tu ficasses a mesma e, à espadua o manto,
Voasses, rainha, pelos séculos fora;
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E quando a fronte me alveja inteira,
Velho, trôpego já, me fosse dado
Ver-te ainda uma vez, uma somente;
Mas ver-te e ainda sentir esta cegueira
Doida por ti, mas ver-te e, alvoroçado,
Tornar-me às veias o meu sangue ardente;
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Ver-te como através de espessa bruma,
Em clima frio, o sol que por momento
Rompe, eleva-se e tudo invade;
E por momento eu crer que de uma em uma
Voltam-me as ilusões, e o firmamento
Reaparece da extinta mocidade;
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Ver-te e a febre que as têmporas me incende
Pulsar de novo, e novamente o peito
Bater-me do desejo à sede infinda;
E o céu que amo, o ar que aspiro, a luz que esplende,
Tudo ouvir que num cântico desfeito
Diz-me aos ouvidos: "Estás moço ainda!"
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"Goza! estás moço! mas um dia apenas!
Goza! ressuscitamos para dar-te
Num dia apenas quanto tens vivido."
- E, as mãos erguendo, eu tatear as penas
Dos sonhos que espelhei por toda a parte,
- Aves de um dia que julguei perdido;
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Ver-te e morrer cantando, em voz ansiosa,
As sílabas de luz do poema de ouro
Que todos, moços, tanta vez cantamos,
Como ao nascer de uma manhã formosa
Casam-se aos raios do levante louro
Na mesma trova os sabiás nos ramos;
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Ver-te morrer depois! que mais quisera!?
Meu doido sonho! mas morrer, vibrante,
Trêmulo ainda de paixões, de zelos!
Inda o cheiro a beber da primavera
Nos teus vestidos e ainda palpitante
Minha boca a sumir nos teus cabelos!
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E tu, sobre meu peito reclinada,
Com a mão nervosa me apertando a cinta,
A contar-me os teus últimos segredos...
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BREVE BIOGRAFIA
Antônio mariano de Oliveira, poeta e prosador brasileiro, nasceu em Palmital de Saquarema, Estado do Rio de Janeiro, em 1859. Estudou na faculdade do Rio e desempenhou diversas funções públicas entre as quais a de diretor da instrução pública do, então, Estado Federal -Rio de Janeiro-. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. Publicou: "Canções Românticas'; "Meridionais"; "Sonetos e Poemas"; "Versos e Rimas"; "O livro de Emma". Morreu em Niterói a 19 de Janeiro de 1937.
Nicéas Romeo Zanchett
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