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terça-feira, 18 de junho de 2013

IMORTAL - Por Alberto de Oliveira


IMORTAL 
Por Alberto de Oliveira 
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Não ser eterna a tua formosura! 
Essa marmórea tês, essa marmórea 
Presença tua, teu olhar tão doce, 
Teus rubros lábios, tua coma escura, 
Tudo o que em ti traduz a pompa,  a glória
 Da mocidade, tudo eterno fosse! 
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Do tempo a mão sacrílega poupasse
De teus contornos o supremo encanto, 
A linda ideal, que me arrebata agora; 
Ficasse a mesma tua ebúrnea face, 
Tu ficasses a mesma e, à espadua o manto,
Voasses, rainha, pelos séculos fora;  
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E quando a fronte me alveja inteira, 
Velho, trôpego já, me fosse dado
 Ver-te ainda uma vez, uma somente; 
Mas ver-te e ainda sentir esta cegueira 
Doida por ti, mas ver-te e, alvoroçado, 
Tornar-me às veias o meu sangue ardente; 
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Ver-te como através de espessa bruma, 
Em clima frio, o sol que por momento
Rompe, eleva-se e tudo invade; 
E por momento eu crer que de uma em uma
Voltam-me as ilusões, e o firmamento
Reaparece da extinta mocidade; 
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Ver-te e a febre que as têmporas me incende 
Pulsar de novo, e novamente o peito
Bater-me do desejo à sede infinda; 
E o céu que amo, o ar que aspiro, a luz que esplende, 
Tudo ouvir que num cântico desfeito
Diz-me aos ouvidos: "Estás moço ainda!"
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"Goza! estás moço! mas um dia apenas! 
Goza! ressuscitamos para dar-te
Num dia apenas quanto tens vivido."
- E, as mãos erguendo, eu tatear as penas
Dos sonhos que espelhei por toda a parte, 
- Aves de um dia que julguei perdido; 
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Ver-te e morrer cantando, em voz ansiosa, 
As sílabas de luz do poema de ouro
Que todos, moços, tanta vez cantamos, 
Como ao nascer de uma manhã formosa
Casam-se aos raios do levante louro
Na mesma trova os sabiás nos ramos; 
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Ver-te morrer depois! que mais quisera!? 
Meu doido sonho! mas morrer, vibrante, 
Trêmulo ainda de paixões, de zelos!
Inda o cheiro a beber da primavera
Nos teus vestidos e ainda palpitante
Minha boca a sumir nos teus cabelos!
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E tu, sobre meu peito reclinada, 
Com a mão nervosa me apertando a cinta, 
A contar-me os teus últimos segredos...
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                  BREVE BIOGRAFIA 
                   Antônio mariano de Oliveira, poeta e prosador brasileiro, nasceu em Palmital de Saquarema, Estado do Rio de Janeiro, em 1859. Estudou  na faculdade do Rio e desempenhou diversas funções públicas entre as quais a de diretor da instrução pública do, então, Estado Federal -Rio de Janeiro-. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. Publicou: "Canções Românticas'; "Meridionais"; "Sonetos e Poemas"; "Versos e Rimas"; "O livro de Emma". Morreu em Niterói a 19 de Janeiro de 1937.  
Nicéas Romeo Zanchett 
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