IGNOTAE DEAE
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DIA DESCONHECIDO
Quando eu dormir à sombra do salgueiro
Que em minha cova arrebentar por si,
Tu, que nem sabes por meus frios cantos
O que sou, o que fui e o que sofri,
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Sobre o meu nome, pobre grão de areia
Que uma criança arremessou ao mar,
Deixa uma gota, a única de pranto,
Sobre o meu nome lenta escorregar;
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Como uma per'la de gentil princesa
Dos seus cabelos desprendesse rindo
E aos pés lançasse de voraz mendigo
que em seu caminho adormeceu pedindo.
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Ai! tu não sabes como o leito é gélido
Aos que no seio as ilusões secaram!
Ai! tu não sabes como é quente o túmulo
Aos que entre os vivos como um som passaram!
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Eu, que por flores suspirei na terra,
Que não dormi por tanta flor no céu,
Que descorei por tanto olhar de fogo,
Coado a furto de zeloso véu.
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Que mergulhei em tanto mar de amores,
E me enxuguei a tanto sol de outono,
Que vejo o mundo ao pé de mim e durmo...
Despertarei de meu pesado sono.
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E quando o mar por alta noite estenda
Lençóis de espuma em que se deite a lua,
Aerolithe que incendeia o espaço
Virei banhar de luz a fronte tua.
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E quando um dia a tempestade as asas
Por sobre o azul de teu viver abrir,
Eu, da tormenta asserenando o grito,
Virei ao pé do teu dormir - dormir.
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BREVE BIOGRAFIA DE Teixeira de Mello
José Alexandre Teixeira de Mello, poeta e escritor brasileiro, nasceu a 28 de Agosto de 1833 e faleceu a 10 de Abril de 1907. Formou-se em medicina e dedicou-se à clinica. Publicou "Sombras e Sonhos", 1858; "Miosotis"; "Efemerides Nacionais". Foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, redator da revista do mesmo instituto, e sócio da Academia Filosófica do Rio de Janeiro, na publicação de cujos anais tomou grande parte.
Nicéas Romeo Zanchett
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