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domingo, 23 de junho de 2013

O GÊNIO DA HUMANIDADE - Por Tobias Barreto



O GÊNIO DA HUMANIDADE 
 Por Tobias Barreto 
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Sou eu quem assiste às lutas, 
Que dentro d'alma se dão, 
Quem sonda todas as grutas
Profundas do coração; 
Quis ver dos céus o segredo;
Rebelde, sobre um rochedo
Cravado, fui Prometeu;
Tive sede do infinito, 
Gênio feliz ou maldito, 
A humanidade sou eu. 
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Ergo o braço, aceno aos ares, 
E o céu se azulando vai; 
Estendo a mão sobre os mares, 
E os mares dizem: passai!...
satisfazendo ao anhelo 
Do bom, do grande e do belo, 
Todas as formas tomei; 
Com Homero fui poeta, 
Com Isaías profeta,
Com Alexandre fui rei. 
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Ouvi-me: venho de longe, 
Sou guerreiro e sou pastor; 
As minhas barbas de monge
 Tem seis mil anos de dor;
Entrei por todas as portas
Das grandes cidades mortas, 
Aos bafos do meu corcel, 
E ainda sinto os resabios 
Dos beijos que dei nos lábios]
Da prostituta Babel. 
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E vi Pentapolis nua, 
Que não corava de mim, 
Dizendo ao sol: eu sou tua, 
Beija-me... queima-me assim! 
E dentro havia risadas
De cindo irmãs abraçadas
Em voluptuoso furor... 
Ânsias de febre e loucura, 
Chiando em polpas de alvura, 
Lábios em brasas de amor!...
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Travei-me em lutas imensas, 
Por vezes, cansado e nu, 
 Gritei ao céu: em que pensas? 
Ao mar: de que choras tu? 
Caminho... e tudo o que faço
Derramo sobre o regaço
Da história, que é minha irmã; 
Chamem-me Byron ou Goethe, 
Na fronte do meu ginete
Brilha a estrela da manhã. 
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E no meu canto solene
Vibra a ira do Senhor; 
Na vida, nesse perene
Crepúsculo interior, 
O ímpio diz: anoitece! 
O justo diz: amanhece
Vão ambos na sua fé...
E às tempestades que abalam 
As crenças d'alma, que estalam, 
Só eu resisto de pé!...
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De Deus ao imenso ouvido
A Humanidade é um tropel, 
E a natureza um ruído
Das abelhas com seu mel, 
Das flores com seu orvalho, 
Dos moços com seu trabalho
De santa e nobre ambição, 
De pensamentos que voam,
De gritos d'alma, que ecoam
No fundo do coração!...
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                       BREVE BIOGRAFIA de Tobias Barreto
                       Tobias Barreto de Menezes,  poeta, político, filósofo, orador e jurisconsulto, nasceu em Sergipe a 7 de Junho de 1839 e faleceu a 26 de Junho de 1889. Foi o representante da filosofia alemã no estudo das ciências jurídicas. escreveu: "Dias e Noites", poesias; "Ensaios e Estudos de Filosofia Crítica", 1889; "Questões Vigentes"; "Comentário teórico e crítico do código criminal brasileiro; "Estudos  alemães, filosofia, direito, literatura e crítica". 
Nicéas Romeo Zanchett 

NIETZSCHE - Por Isaias de Oliveira


NIETZSCHE 
Por Isaías de Oliveira 
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Ele surgiu das plagas da Alemanha, 
Espargindo grandiosos pensamentos, 
Cheios de Luz, de másculos acentos
Novo Cristo pregando na montanha. 
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Brotou-lhe aos lábios a doutrina estranha
Feita de sois, delírios e tormentos, 
Inimitável em deslumbramentos,
 Que  o mundo das ideias todo banha. 
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Cegou-o tanta luz! perdeu o brilho
A inteligência audaz do rebelado, 
Entrando da loucura o curvo trilho...
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E o grande ateu nas noites tormentosas
De seu delírio atroz, inominado, 
O Cristo via em linhas fulgurosas! 
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Pesquisa e postagem: Nicéas Romeo Zanchett 
LEIA TAMBÉM >>>> GOTAS DE LITERATURA UNIVERSAL
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IGNOTAE DEAE - DIA DESCONHECIDO - Por Teixeira de Mello


IGNOTAE DEAE 
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DIA DESCONHECIDO 

Quando eu dormir à sombra do salgueiro 
Que em minha cova arrebentar por si, 
Tu, que nem sabes por meus frios cantos 
O que sou, o que fui e o que sofri, 
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Sobre o meu nome, pobre grão de areia 
Que uma criança arremessou ao mar, 
Deixa uma gota, a única de pranto, 
Sobre o meu nome lenta escorregar; 
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Como uma per'la de gentil princesa
Dos seus cabelos desprendesse rindo
E aos pés lançasse de voraz mendigo
que em seu caminho adormeceu pedindo. 
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Ai! tu não sabes como o leito é gélido 
Aos que no seio as ilusões secaram! 
Ai! tu não sabes como é quente o túmulo 
Aos que entre os vivos como um som passaram! 
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Eu, que por flores suspirei na terra, 
Que não dormi por tanta flor no céu, 
Que descorei por tanto olhar de fogo,
Coado a furto de zeloso véu.
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Que mergulhei em tanto mar de amores, 
E me enxuguei a tanto sol de outono, 
Que vejo o mundo ao pé de mim e durmo...
Despertarei de meu pesado sono. 
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E quando o mar por alta noite estenda
Lençóis de espuma em que se deite a lua, 
Aerolithe que incendeia o espaço
Virei banhar de luz a fronte tua. 
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E quando um dia a tempestade as asas
Por sobre o azul de teu viver abrir, 
Eu, da tormenta asserenando o grito, 
Virei ao pé do teu dormir - dormir.
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                        BREVE  BIOGRAFIA DE Teixeira de Mello
                        José Alexandre Teixeira de Mello, poeta e escritor brasileiro, nasceu  a 28 de Agosto de 1833 e faleceu a 10 de Abril de 1907. Formou-se em medicina e dedicou-se à clinica. Publicou "Sombras e Sonhos", 1858; "Miosotis"; "Efemerides Nacionais". Foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, redator da revista do mesmo instituto, e sócio da Academia Filosófica do Rio de Janeiro, na publicação de cujos anais tomou grande parte. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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terça-feira, 18 de junho de 2013

A BELEZA - Pietro Metastasio


A BELEZA 
Por Pietro Metastasio 
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Do céu irradiação, é a beleza. 
Celeste torna as coisas em que brilha. 
Está nas almas mais tardas
Eleva ao céu, bem como o sol levanta 
Qualquer baixo vapor; está da vida 
Trabalhosa os enfados
Tempera aos homens e compensa os danos. 
Nas aflições alegra. 
Está nos míseros; está nos furores
Os tiranos aplaca, incita os lentos, 
A quem foge encadeia, 
Anima os vis, ao temerário enfreia, 
E do seu doce império, 
Que conduz a alegria, 
E que o deleite cria onde se estende, 
Qualquer sente o poder, ninguém o entende.
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                  BREVE BIOGRAFIA 
                  Metastasio, nome adotado por Pietro Antônio Domênico Boaventura Trapassi, poeta italiano, nasceu em Roma a 13 de Janeiro de 1698. O seu talento como improvisador chamou a atenção dum distinto advogado, João Vicente Gravina, que o mandou educar e lhe deixou a sua fortuna. Durante cinquenta e dois anos Metastasio foi poeta real da côrte de Viena, onde morreu a 12 de abril de 1782. Entre outras obras publicou: "Didone Abbandonata", 1724; "Catone in Utica"; "Adriano in Siria"; "Attilio Regulo"; "La Clemenza di Tito", 1734; e várias poesias que foram postas em música pelos melhores compositores. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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IMORTAL - Por Alberto de Oliveira


IMORTAL 
Por Alberto de Oliveira 
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Não ser eterna a tua formosura! 
Essa marmórea tês, essa marmórea 
Presença tua, teu olhar tão doce, 
Teus rubros lábios, tua coma escura, 
Tudo o que em ti traduz a pompa,  a glória
 Da mocidade, tudo eterno fosse! 
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Do tempo a mão sacrílega poupasse
De teus contornos o supremo encanto, 
A linda ideal, que me arrebata agora; 
Ficasse a mesma tua ebúrnea face, 
Tu ficasses a mesma e, à espadua o manto,
Voasses, rainha, pelos séculos fora;  
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E quando a fronte me alveja inteira, 
Velho, trôpego já, me fosse dado
 Ver-te ainda uma vez, uma somente; 
Mas ver-te e ainda sentir esta cegueira 
Doida por ti, mas ver-te e, alvoroçado, 
Tornar-me às veias o meu sangue ardente; 
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Ver-te como através de espessa bruma, 
Em clima frio, o sol que por momento
Rompe, eleva-se e tudo invade; 
E por momento eu crer que de uma em uma
Voltam-me as ilusões, e o firmamento
Reaparece da extinta mocidade; 
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Ver-te e a febre que as têmporas me incende 
Pulsar de novo, e novamente o peito
Bater-me do desejo à sede infinda; 
E o céu que amo, o ar que aspiro, a luz que esplende, 
Tudo ouvir que num cântico desfeito
Diz-me aos ouvidos: "Estás moço ainda!"
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"Goza! estás moço! mas um dia apenas! 
Goza! ressuscitamos para dar-te
Num dia apenas quanto tens vivido."
- E, as mãos erguendo, eu tatear as penas
Dos sonhos que espelhei por toda a parte, 
- Aves de um dia que julguei perdido; 
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Ver-te e morrer cantando, em voz ansiosa, 
As sílabas de luz do poema de ouro
Que todos, moços, tanta vez cantamos, 
Como ao nascer de uma manhã formosa
Casam-se aos raios do levante louro
Na mesma trova os sabiás nos ramos; 
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Ver-te morrer depois! que mais quisera!? 
Meu doido sonho! mas morrer, vibrante, 
Trêmulo ainda de paixões, de zelos!
Inda o cheiro a beber da primavera
Nos teus vestidos e ainda palpitante
Minha boca a sumir nos teus cabelos!
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E tu, sobre meu peito reclinada, 
Com a mão nervosa me apertando a cinta, 
A contar-me os teus últimos segredos...
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                  BREVE BIOGRAFIA 
                   Antônio mariano de Oliveira, poeta e prosador brasileiro, nasceu em Palmital de Saquarema, Estado do Rio de Janeiro, em 1859. Estudou  na faculdade do Rio e desempenhou diversas funções públicas entre as quais a de diretor da instrução pública do, então, Estado Federal -Rio de Janeiro-. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. Publicou: "Canções Românticas'; "Meridionais"; "Sonetos e Poemas"; "Versos e Rimas"; "O livro de Emma". Morreu em Niterói a 19 de Janeiro de 1937.  
Nicéas Romeo Zanchett 
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segunda-feira, 17 de junho de 2013

A MULHER AMÁVEL Por Ângelo Poliziano



A MULHER AMÁVEL 
Por Ângelo Poliziano

Cândida é ela, e cândida é como está
A veste de erva e flores matizada, 
Desce na humilde e majestosa testa 
Da áurea cabeça a madeixa anelada.
Ri-se dela ao redor toda Floresta
Em mitigar-lhe as penas esforçada; 
Nos atos mostra mansa e real alma 
E com seus olhos a tormenta calma. 
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Nestes lhe brilha um ar doce e sereno, 
E ali Cupido esconde o facho ardente; 
Todo ao redor se torna o ar ameno
Onde quer que voltada olhe clemente. 
De celeste alegria o rosto é pleno,
De rosas, lhe é pintado docemente,  
Calam-se as auras ao falar que encanta; 
Toda avezinha em sua língua canta. 
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Se pega na viola a crês Thalia; 
E crês Minerva se ela empunha a hasta; 
De aljava ao lado, e arco na mão, diria, 
Jurando o lábio, que é Diana casta; 
Ante ela triste a raiva se desvia, 
Diante dela a soberba pouco basta. 
Toda a doçura a vai acompanhando; 
Beleza e Graça a dedo a vão mostrando. 
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A segue a Honestidade humilde e lhana 
Que duros corações abre com a chave; 
A segue a Gentileza em vista humana, 
Dela se aprende o doce andar suave; 
Não a encara alma vil, se se não dana
Antes dos erros seus com pesar grave.
Tantas almas Amor conquista e abala, 
Quanto ela doces tem o riso e a fala. 
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           BREVE BIOGRAFIA 
           Ângelo Poliziano, poeta italiano, nasceu em Montepulciano, Toscana, a 14 de julho de 1454. Foi professor da Universidade de Florença, cidade em que morreu a 24 de Setembro de 1494. Publicou, em italiano, os poemas "La Giostra e Orfeo", 1493; e em latim, "Rusticus, Nutricia, etc., bem como estudos críticos e traduções do grego. Foi um homem muito culto e grande poeta. 
Nicéas Romeo Zanchett 
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           LEIA TAMBÉM >>> GOTAS DE CULTURA UNIVERSAL




DO AMOR PERDIDO - Por Jacob Sannarazo


DO AMOR PERDIDO 
 Por Jacob Sannazaro 

Vênus o filho do Amor, que tem perdido, 
Por outra e outra parte anda buscando; 
E ele dentro em meu peito está escondido, 
E a íra d'ambos triste estou receando; 
Se o mostro, serei dele perseguido, 
Se o escondo, irei minha vida e alma gastando; 
Deixa-te estar, Amor, mas menos duro, 
Que em nenhuma parte estarás mais seguro. 
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            BREVE BIOGRAFIA 
             Jacob Sannazaro nasceu de família nobre em Nápoles -Itália- em 1 456 e morreu em 1530. Poeta e escritor italiano que viveu no período do Renascimento. 
Nicéas Romeo Zanchett 


SAVANAROLA - Por Magalhães de Azeredo


SAVANAROLA 
Por Calos Magalhães Azeredo 

Pelas ruas e praças de Florença, 
Minaz, fremente verberando vício, 
O plebeu conquistavas e o patrício...
Renasciam irmãs virtude e crença. 
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Doce te fora a morte em recompensa, 
Se te não amargara o sacrifício 
Ver que ao lutuoso poste do suplício
Mão sacra te arrastava, a Deus infensa. 
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Olhaste o céu; perdoaste, enternecido. 
O fogo te aureolou a fronte calma, 
Apóstolo sublime e perseguido!
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E, colhendo dos mártires a palma, 
Tu expiraste, Herói, sem um gemido. 
Ardia mais que as chamas a tua alma! 
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               BREVE BIOGRAFIA 
                Carlos Magalhães de Azeredo, poeta, jornalista, contista, ensaísta brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro em 7 de setembro de 1872 e morreu na Roma -Itália- a 4 de novembro de 1963. Foi um dos dez intelectuais convidados para  integrar o quadro dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. 
Nicéas Romeo Zanchett


AMOR IDEAL - Por Ausias March



AMOR IDEAL 
 Por Ausias March 
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No amor descobre minha fantasia 
Segredos que ninguém há imaginado;
Para mim sua noite é claro dia
Vivo do que ele nunca hão provado. 
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Tanto amor na minha alma se extasia
Que crê que a hei do corpo separado; 
E não se acha no nome o meu anseio
A não ser no que deixa o corpo feio. 
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Minha carne não tem amor sensível, 
É só a alma que o amor deseja; 
Do fogo escuro e vil não é possível
Que eu, assim vos querendo, ardido seja; 
À alma vou perfeita e invisível, 
A qual me rege, manda, e sempre reja, 
E de outras coisas falo, trato e peço
Que o amador de baixo amor possesso. 
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Se amor fora substância razoável, 
Ou o julgara quem está penando, 
Pagando ao mau, ao bom, ao mui louvável
Eu por mim fora um Fênix bem amado. 
Desejo limpo tenho e não variável; 
Conforme os meus sentidos desejado; 
E como ha outro em mim que o senhoreá, 
Onde ele está não cabe coisa feia. 
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Diógenes seus bens para  elevar-se 
Para o mar atirou onde passava; 
Não quis em coisas baixas ocupar-se 
Que só o bem supremo imaginava; 
Pois eu, como no amor imaginasse, 
E só o bem da alma encaminhava, 
Todo o amor deixei baixo e profano, 
Julgando que estorvasse o sobre-humano.

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Os naturais não hão nunca alcançado
Muitos segredos que há na experiência; 
Só aquele que passa é revelado, 
Que ninguém o alcançou nunca por ciência; 
Primores me há o amor manifestado
Que outro não entendeu pela prudência;
 E quando o digo, eu anseio e toco, 
Desmentem-me, dizendo que sou louco.  
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             BREVE BIOGRAFIA de  Ausias March 
              Ausias March, poeta espanhol, nasceu em Valência nos fins do século XIV, e morreu em 1460. Pertencia a alta nobreza, era senhor de Beniarjo e membro das côrtes de valência em 1446. Chamaram-lhe "O Petrarca da Catalunha", afirmando-se que chegou a igualar o cantor de Laura em elegância, conceito e harmonia; ainda que como aquele contribuísse para a formação da língua, que elevou a um alto grau de perfeição, os seus sentimentos eram mais reais e não se deixava seduzir pelo falso brilhantismo e pela artificialidade das imagens.  
Nicéas Romeo Zanchett 
LEIA TAMBÉM >>>> GOTAS DE LITERATURA UNIVERSAL