O GÊNIO DA HUMANIDADE
Por Tobias Barreto
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Sou eu quem assiste às lutas,
Que dentro d'alma se dão,
Quem sonda todas as grutas
Profundas do coração;
Quis ver dos céus o segredo;
Rebelde, sobre um rochedo
Cravado, fui Prometeu;
Tive sede do infinito,
Gênio feliz ou maldito,
A humanidade sou eu.
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Ergo o braço, aceno aos ares,
E o céu se azulando vai;
Estendo a mão sobre os mares,
E os mares dizem: passai!...
satisfazendo ao anhelo
Do bom, do grande e do belo,
Todas as formas tomei;
Com Homero fui poeta,
Com Isaías profeta,
Com Alexandre fui rei.
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Ouvi-me: venho de longe,
Sou guerreiro e sou pastor;
As minhas barbas de monge
Tem seis mil anos de dor;
Entrei por todas as portas
Das grandes cidades mortas,
Aos bafos do meu corcel,
E ainda sinto os resabios
Dos beijos que dei nos lábios]
Da prostituta Babel.
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E vi Pentapolis nua,
Que não corava de mim,
Dizendo ao sol: eu sou tua,
Beija-me... queima-me assim!
E dentro havia risadas
De cindo irmãs abraçadas
Em voluptuoso furor...
Ânsias de febre e loucura,
Chiando em polpas de alvura,
Lábios em brasas de amor!...
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Travei-me em lutas imensas,
Por vezes, cansado e nu,
Gritei ao céu: em que pensas?
Ao mar: de que choras tu?
Caminho... e tudo o que faço
Derramo sobre o regaço
Da história, que é minha irmã;
Chamem-me Byron ou Goethe,
Na fronte do meu ginete
Brilha a estrela da manhã.
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E no meu canto solene
Vibra a ira do Senhor;
Na vida, nesse perene
Crepúsculo interior,
O ímpio diz: anoitece!
O justo diz: amanhece
Vão ambos na sua fé...
E às tempestades que abalam
As crenças d'alma, que estalam,
Só eu resisto de pé!...
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De Deus ao imenso ouvido
A Humanidade é um tropel,
E a natureza um ruído
Das abelhas com seu mel,
Das flores com seu orvalho,
Dos moços com seu trabalho
De santa e nobre ambição,
De pensamentos que voam,
De gritos d'alma, que ecoam
No fundo do coração!...
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BREVE BIOGRAFIA de Tobias Barreto
Tobias Barreto de Menezes, poeta, político, filósofo, orador e jurisconsulto, nasceu em Sergipe a 7 de Junho de 1839 e faleceu a 26 de Junho de 1889. Foi o representante da filosofia alemã no estudo das ciências jurídicas. escreveu: "Dias e Noites", poesias; "Ensaios e Estudos de Filosofia Crítica", 1889; "Questões Vigentes"; "Comentário teórico e crítico do código criminal brasileiro; "Estudos alemães, filosofia, direito, literatura e crítica".
Nicéas Romeo Zanchett
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