Neste Cáspio sem marulhos,
Sem macaréus, quieto, quieto,
Em vão brota o lodo infecto
Só venenosos tortulhos;
.
E despovoa os casebres
Vizinhos, lançando aos ventos
Os miasmas pestilentos
Do carbúnculo e das febres;
.
Em vão sobre ele bafefa
A peste, e , na superfície,
Boa a nata da imudice
E zumbe a mosca-vreja;
.
Ferve o enxame dos imundos
Vibriões, filhos da lama,
- Deliciosíssima cama
Dos farroupas nauseabundos -
.
Pelas margens e por cima
Torpes batráquios, coaxando,
Sobre o charco pulam, quando
Acaso algum se aproxima...
.
Em vão; que Deus n]ao esquece
As coisas mais vis; portanto,
Sobre esse pútrido manto
Batendo, o sol resplandece.
.
Nele os olhos azuis cravam
As estrela vacilantes,
que em águas tais repugnantes,
Sem repugnâncias se lavam;
.
E também nele se banha,
Em horas mortas, a lua,
Como a Willis toda nua
Das legendas da Alemanha.
.
Nem sempre ele espelha a peste,
Que às vezes nele os fulgores
Dos íris e as sete cores
Se estampam do arco celeste.
.
Deus verte a flama siderea
Na escura e tabida vasa,
É a estranha infecunda brasa
Da podridão deletéria!
.
Dá-lhe a luz, sem convertê-la
Na luz: pois jamais de todo
Deixa o lodo de ser lodo.
E a estrela de ser estrela!
.
Mas basta a luz nele acesa,
Pra que o barro vil reflita
Daquela flama infinita
Toda a infinita grandeza.
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