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quarta-feira, 5 de julho de 2023

AS TRÊS FORMIGAS - Por Alberto de oliveira

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Movendo os pés cor de brasa

Foram as três com cautela, 

Subindo o muro da asa

De dona Estela.

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- Arriba! diz a primeira.

- Mais de vagar... diz com siso

Segunda. Diz a terceira:

Sei onde piso. 

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Noite fechada, propícia

Àideia, ao plano que se leva..

Nem de uma brisa a carícia!

Silêncio e  treva!

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De pronto um grilo de um canto:

_ Onde ides, minha amigas?

E um calafrio de espanto

Nas três formigas. 

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Ah!... Mas um rosto aparece

Em cima, numa janela...

- É ela? - O rosto parece

De dona Estela!

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Tri... tri... entre as asas geme

O grilo. E pernalta aranha 

Na trama de ouro em que treme

Quase o apanha. 

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E agora se atemorizam 

As três. E tudo embaraços!

E o cal somente que pisam

Lhes ouve os passos. 

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E uma após outra se encaram

Tremendo: ora hesitam, ora 

Conversam baixinho, param 

Por mais de uma hora. 

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Logo como se fracassa

O muro a um trovão que as gela...

Descera brusca a vidraça

Da dona Elisa.

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- Melhor é voltarmos, logo

Uma aconselha em segredo; 

Outra abre os olhos de fogo, 

E é toda medo. 

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Terceira chora, encolhida: 

- Tão alto! já estou cansada!

Meu Deus, nossa pobre vida

Não vale nada.

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Mas sobem, que é necessário

Subir. Jesus, o benquisto,

Subiu também seu calvário, 

E Elle era o Cristo.

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Janela, enfim! num alento

Exclama a que mais anseia 

Primeiro ser no aposento

De dona Estela. 

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-Por esta fresta... - Por esta...

- Melhor... - Entremos. - Avante!

E uma olha, analisa a fresta,

E rompe adiante.

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Seguem-na as duas. Estreito

É o trilho. Vão. Tal  num berro 

Vai por um tunel direto

Um trem de ferro. 

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Ei-las estão da outra banda,

Na alcova. E olham em roda, 

À luz da lâmpada, branda,

A alcova toda.

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E vêm, por entre os adornos

De um leito elegante, a bela

Fronte o perfil, os contorno

De dona Estela. 

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Azul celeste a parede

Sobre o papel que a  reveste...

E é toda a câmara, vêde:

Azul celeste!

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Tenda de neve - a cortina; 

Dois bustos, um ramalhete 

Além, descansa botina

Sobre o tapete. 

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Num quadro de luzidio

Ebano, um vulto guerreiro: 

Perfil severo e sombrio

De cavalheiro

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De Espanha; olhar atrevido, 

Espada a cinta, e a escarcela...

- É com certeza o marido

De dona Estela.

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E o espelho... como cintila!

Parece de um lago a nua

Face que leve se anila

Com a luz da lua. 

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No toucador como esparsa 

Há tanta coisa! um diadena, 

Alva penugem de garça...

Todo um poema!

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 E um vaso com a ais festiva

Das rosas! - Meus Deus, acaso

Há rosa também que viva

Dentro de um vaso?!

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 E à flor o assalto preparam

As três formigas... Ai! dela, 

A flor que os lábios beijaram

De dona Estela!

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Descem o muro. Profundo 

Silêncio. Tudo parece 

A miniatura de um mundo

Que se amortece. 

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Soem aos moveis. No teto

Nem sombra de asa perdida

Do mais pequenino inseto...

Tudo sem vida!

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Chegam à rosa. Que altivo

Seio encarnado! Que encanto

Nesse  encarnado lascivo 

Que tem no manto!

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E se adianta animosa,

Mais esta após. mais aquela...

Ai! rosa, querida rosa

De dona Estela!

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Correm-lhe as pétalas. Uma 

Desce-lhe ao pólen que toma;

Da boca aos pés se perfuma

Com seu aroma. 

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Enchem-se de ouro, que é de ouro

Su'álma. Sedas desatam 

Que prendam. Vida, tesouro, 

Tudo arrebatam. 

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E da assombrosa riqueza

Vendo-se ao fim carregadas

E mais do que da árdua empresa

Recompensadas,  

.

Lá vão a fugir, com o geito

Do que em roubar se desvela...

Mas nisto estremece o leito 

De dona Estela. 

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É dia. A a dona da alcova

já está de pé: e, ansiosa,

Porque mau sonho renova, 

Vai ver a rosa. 

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Toma-a do vaso às mãozinhas;

Mas , ao beija-la, a senhora

Descobre as três formiguinhas,  

E. Sopra-as fora. 

.

-Ah! que tufão repentino! 

As três, no ar, na ansiedade

Da queda, exclamam sem tino...

- Que tempestade!

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 Longe, bem longe, erradias, 

Caíram. Nem se mexeram

De  espanto quase dois dias...

Depois morreram.

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Eis das forigas o caso. 

A rosa...fale por ela

Outra que é nova no vaso

De dona Estela. 

Nicéas Romeo Zanchett 











 


 

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