O CAIR DAS FOLHAS
Por Carlos Hubert Millevoye
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Do outono o ríspido sopro
De folhas o chão cobriu;
O rouxinol não gorjeia;
Seu manto o bosque despiu.
Enfermo, já morto quase,
Posto da vida na aurora,
Jovem triste, a passo lento,
Inda uma vez divagava
No bosque amigo de outrora:
"Adeus, ó cara floresta;
No teu dó estou a ler
A minha sorte funesta:
Dentro em pouco hei de morrer.
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Da ciência a voz fatal
Meu termo cruel prediz:
Não tornarás estas folhas
A ver secar, infeliz!
Cerca-te a noite do túmulo;
Mais que o outono desmaiado,
Para ele a caminhar,
Tu, no mundo mal entrado,
Antes da relva do prado
Para sempre hás de murchar.
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E morro!... Um gélido vento
Pela face me roçou;
Morro! E a minha primavera
Como sombra se escoou!
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"Cai, efêmera folhagem;
Cem esta senda encobrir
A minha mãe; que não sabia
Onde o filho vai dormir.
Mas, se, ao fenecer da tarde,
Minha amante a soluçar
Na alameda, consternada,
O meu fim vier chorar,
Com teu leve som acorda,
Quebra o fundo sono meu;
Que a veja ainda na terra
Como um conforto do céu".
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Assim disse; após instantes
Foi-se; e nunca mais voltou!
Do bosque a última folha
Teu dia extremo marcou!
À sombra de alto carvalho
O sepulcro lhe cavaram;
Mas as lágrimas da amante
Nunca a pedra lhe regaram!
Só às vezes, quando, acaso,
O pastor ali passava,
Aquela mudez da morte
Com seus passos acordava.
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BREVE BIOGRAFIA
Carlos Hubert Millevoye, poeta francês, nasceu em Abbeville em 1782, e morreu em Paris em 1816. A sua infância, enferma, desenvolveu nele uma melancolia mórbida. Fez seus estudos em Paris, entrou para o escritório de um procurador, e depois para uma livraria. Ali teve sua oportunidade de conviver com a cultura literária. Publicou um volume de poesias em 1801; de 1804 a 1812 tomou parte em vários concursos acadêmicos que lhe deram celebridade. Depois publicou a segundo coleção, da qual faziam parte as poesias Le Poète mourant e La Chute des fewilles. Citam-se ainda, da sua pena Le Beau-Lys, Le Deguisement, Homère mendiant, Danaé, etc. Escreveu também, mas sem êxito, vários poemas heroicos. Prevendo a sua morte, e para breve, cantou a sua aproximação em versos que muito impressionaram os seus contemporâneos.
Nicéas Romeo Zanchett
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