OS TRIUNFOS DA REVOLUÇÃO - Fernando Leal
I
ROBESPIERRE
Que sempre o velho mundo em fúria berre,
Foi ele quem fundou um mundo novo!
O seu sistema do "Terror" não louvo...
Mas onde está um homem que não erre?
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É justo que o seu nome os reis aterre:
Foi ele quem partiu o fértil ovo
D'onde se alou para o Direito o povo;
Foi ele, o grande estoico, Robespierre.
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Proscritor, como em Roma Sylla e Mário,
Embora o sangue seja o seu estigma,
Fez homens livres, sendo sanguinário.
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A sua alma era um negro e fundo enigma,
Sua bandeira um lugubre sudário;
Mas foi de cidadãos um paradigma.
II
MARAT
Como um tigre ama os filhos, ele amava
O povo com sinistro amor insano;
Ele era "o velho sofrimento humano";
Do seu crâneo - um vulcão! - safa lava.
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Viveu numa caverna, em fúria brava,
Pedindo sangue como o Siva indiano,
Rugindo contra todo o vil tirano
De cujo despotismo suspeitava.
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Acaso foi desses heróis sublimes,
Que, só por muito amor, cometem crimes?
Gritam os déspotas: "Chacal! chacal!"
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Responde a história: "Tinha uma doença,
Que teve Sylla, a precisão imensa
De suspeitar o Crime e crêr no Mal!
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III
DANTON
Leão no arrojo, era um titan na altura;
Terrivel, feio, audaz, mas amorável,
Os déspotas achavam-no indomável,
Sua mulher vencia-o com ternura,
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Dos três a mais simpática figura,
Tinha da sua roça o gênio instável;
Não teria um caráter impecável,
Se é verdadeira a história que o censura,
.
Mas o filósofo, que importam vagas
Denúncias, vis acusações, torpêzas!
Mar da Revolução, que o mundo alagas,
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Quem te rompeu os diques e as reprezas?
Quem foi que te excitou, primeiro, as vagas?
Foi ele - derrubando as realêzas.
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Fernando Leal, poeta e prosador portugês, nasceu em Margão, Índia, a 5 de Outubro de 1846, onde morreu em 1910. feitos os seus estudos preparatórios, alistou-se como voluntário no antigo regimento de Cavalaria de Nova Gôa, matriculando-se em seguida na escola Militar daquele Estado. Em 1908 fêz parte, como 2° tenente, da expedição contra o Bonga de zambezia. Foi ajudante de campo de seu tio Fernando da Costa Leal, quando governador de Moçambique, secretário da missão diplomática ao Transvaal para negociar com os boers os limites, comécio e amizade. Veio para Lisbôa em 1871, sendo transferido para o Exército em 1874. Publicou, além de vários trabalhos oficiais: Elefantes e Monstros, episódio da insurreição indiana de 1857, 1876; Reflexos e Penumbras, poesias, 1879; Palmada na pança de John Bull, 1884; Relâmpagos, versos, 1888; Livro da Fé. prosa e verso, 1898; entre outros.
Deixou também vários trabalhos literários em francês.
Nicéas Romeo Zanchett
http://gotasdeculturauniversal.blogspot.com/
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