Abre a janela... acorda!
Que eu, só por te acordar,
Vou pulsando a guitarra, corda a corda,
Ao luar!
.
As estrelas surgiram
Todas: e o limpo véu,
Com lírios alvíssimos, cobriram
Do céu,
.
De todas a mais bela
Não veio ainda, porém:
Falta uma estrela... És tu! Abre a janela,
E vem!
.
A alva cortina anciosa
Do leito entreabre; e ao chão
Saltando, o ouvido presta à harmoniosa
Canção.
.
Solta os cabelos cheios
De aroma: e semi-nus,
Surjam formosos, trêmulos, teus seios
À luz.
.
Repousa o espaço mudo;
Nem numa aragem, vês?
Tudo é silêncio, tudo calma, tudo
Mudez.
.
Abre a janela, acorda!
Que eu, só por te acordar,
Vou pulsando a guitarra corda a corda,
Ao luar!
.
Que puro céu! que pura
Noite! nem um rumor...
Só a guitarra em minhas mãos murmura:
Amor!...
.
Não foi o vento brando
Que ouviste soar aqui:
É o choro da guitarra, perguntando
Por ti.
.
Não foi a ave que ouviste,
Chilrando no jardim:
É a guitarra que geme e trila triste
Assim.
.
Vem, que esta voz secreta
É o canto de Romeu!
Acorda! quem te chama, Julieta,
Sou eu!
.
Porém... Ó cotovia,
Silêncio! a aurora, em véus
De nevoa e rosas, não desdobre o dia
Nos céus...
.
Silêncio que ela acorda...
Já fulge o seu olhar...
Adormeça a guitarra, corda a corda,
Ao luar!
BREVE BIOGRAFIA:
Olavo Bilac, poeta e prosador brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro a 16 de dezembro de 1865. Estudou medicina no Rio de Janeiro e direito em Recife, mas não concluiu nenhum dos cursos. Foi membro da Academia Brasileira de Letras. A sua obra capital é uma série de sonetos intitulados Via Láctea que com as panóplias forma a parte principal do seu livro de poesias publicado em 1888. Prosador muito distinto, publicou: Crônicas e novelas, 1893. Colaborou em muitos periódicos e revistas e redigiu O Combate, 1892; A cigarra, 1895: A bruxa, 1898, faleceu em 1918.
Nicéas Romeo Zanchett
ótimo
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