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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

ESPUMAS FLUTUANTES - Por Castro Alves.


ESPUMAS FLUTUANTES 
DEDICATÓRIA 
A pomba d'aliança o voo espraia
Na superfície azul do mar imenso, 
Rente... rente de espuma já desmaia
Medindo a curva do horizonte extenso...
Mas o disco se avista ao longe... A praia 
Rasga nitente o nevoeiro denso!...
O pouso! ó monte! ó ramo de oliveira!
Ninho amigo da pomba forasteira!
.
Assim, meu pobre livro as asas larga
Nesse oceano sem fim, sombrio, eterno...
O mar atira-lhe a saliva amarga,  
O céu atira o temporal de inverno...
O triste verga à tão pesada carga! 
Quem abre ao triste um coração paterno?...
É tão bom ter por árvore - uns carinhos! 
É tão bom ter por afetos - fazer ninhos! 
.
Pobre órfão! Vagando nos espaços
Embalde às solidões mandas um grito! 
Que importa? De uma cruz ao longe os braços 
Vejo abrirem-se ao mísero precito... 
Os túmulos dos teus dão-te regaços! 
Ama-te a sombra do salgueiro aflito... 
Vai, pois, meu livro! e como louro agreste 
Traz-me no bico um ramo de... cipreste! 
.
 Bahia - 1870
.
Pesquisa e postagem:  Nicéas Romeo Zanchett 

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