BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
.
É talvez a ventania;
Mas hà pouco, hà pouquinho.
Nem uma agulha bolia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
.
Quem bate assim levemente
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?...
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento com certeza.
.
Fui ver. A neve caia
Do azul cinzento do céu
Branca e leve, branca e fria...
-Ha tanto tempo não via!
E que saudades. Deus meu!
.
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e quando passa
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
.
Fico olhando esses sinais
Da nobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezinhos de criança...
.
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
.
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Por que lhes dai tanta dor?!
Por que padecem assim?!...
.
E uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai a neve na natureza...
- E cai no meu coração.
.
BREVE BIOGRAFIA de Augusto Gil
Augusto Gil foi Advogado e um importante poeta português. Nasceu no Porto em 31 de Julho de 1873 e morreu em 26 de Fevereiro de 1929 Publicou: Musa Cérula; Versos; Luar de janeiro; O Canto da Cigarra, etc.
Nicéas Romeo Zanchett
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