CANTIGA ANACREÔNTICA
Por Marquesa D'Alorna
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Dentre as canas buliçosas
Leve Zéfiro respira,
Movem-se as folhas lustrosas,
Amor palpita e suspira.
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Nestes doces movimentos
Vão-se as sombras desfazendo,
Vão-se espreguiçando os Ventos,
Lúcifer esmorecendo.
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Vai-se a manhã levantando,
Acordam com ela as cores,
Vão com ela despertando
Pardas rochas, lindas flores.
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Ante os raios refulgentes
Cessa o tímido segredo,
Abrilhantam-se as correntes,
Nascem coros no arvoredo.
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Sai do seio do descanso
Vigorada a fantasia;
As ideias são mais claras
Na hora em que nasce o dia.
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Depois de um sono quieto
Tudo acorda com vigor;
Porque razão quando dorme
Não desperta assim o amor?
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BREVE BIOGRAFIA
Dona Leonor d'Almeida Lorena e Lencastre, Condessa de Oeyenhausen, Marquesa D'Alorna, poetisa portuguesa, nasceu em Lisboa a 31 de Outubro de 1750 e morreu em Benfica a 11 de Outubro de 1839. Foi celebrada pelos poetas da Arcádia sob o nome de Alcype. Parte de sua infância passou-a no convento de Chellas por ordem do Marques de Pombal que mandou também encerrar seus pais e o irmão somente porque eram parentes dos Tavoras. Em 1779 desposou o conde de Oeyenhausen. Muito conhecida pelos seus talentos literários, deixou várias composições poéticas, umas originais e outras traduzidas por poetas célebres, que foram reunidas em 6 volumes.
Nicéas Romeo Zanchett
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