LUCY
Obra de Guilherme Wordsworth
Tradução de
Fernando Pessoa
.
De ínvias fontes ao pé vivia ela,
E de escusos caminhos;
Ninguém dava louvores à donzela,
Muito poucos, carinhos;
.
Uma violeta de uma pedra ao pé,
Meio oculta ao olhar!
- Bela como uma estrela quando é
A única a brilhar!
.
Viveu só. Pouca gente saberia
Quando foi seu fim;
Mas está morta, morta, e - oh agonia! -
A diferença pra mim!...
.
Três anos, noite e dia, cresceu ela,
E a natureza disse: "Flor mais bela
Nunca a terra antes tinha";
Tomarei para mim esta criança,
E farei dela, com sutil mudança
Uma senhora minha.
.
" À minha predileta impulso e lei
Saberei ser, e ao pé de mim farei
Que ela possa sentir
Em céu e terra, na floresta ou mar,
Um Supremo Poder para a animar
Ou para dirigir.
.
Ela alegre será como a donzela
Que corre louca pelo prado, ou pela
Fria montanha aérea;
Dela será a fresca e simples alma,
Cheia de grave e silenciosa calma
Das coisas da matéria.
.
Às nuvens dar-lhe-hão a sua graça,
E o vime a sua, quando o venta passa;
Nem lhe será escuro
Na própria tempestade o ritmo informe
Que em beleza o seu corpo vigem forme
Por um influxo obscuro.
.
As estrelas da noite ser-lhe-hão caras,
O ouvido inclinará para as fontes claras,
E onde a aragem passe
E os cantos dos rivais riachos misture-os;
E a beleza nascida dos murmúreos
Passar-lhe-há para a face.
.
E vitais sentimentos de alegria
dar-lhe-hão a graça desenvolta e esguia,
E à tez suave matiz;
Darei a Lucy estes pensamentos,
E viveremos límpidos momentos
Nesta estância feliz."
.
E a natureza fez como falou. -
Mas ah! quão cedo Lucy nos deixou!
Morreu, deixou-me cá
Este prado, esta calma que me dói,
A memória de tudo quanto foi
E nunca mais será.
.
Um sono o meu espírito fechava
Pra receios humanos;
Ela parecia coisa já não escrava
Do contato dos anos.
.
Já não ouve nem vê, nem força nua
Ou movimento encerra;
Arrastada com a rocha e a erva sua
Na rotação da terra.
.
BREVE BIOGRAFIA
Guilherme Wordsworth, poeta inglês, nasceu em Cockermouth a 7 de Abril de 1770 e foi educado em Hawkshead e na Universidade de Cambridge. Percorreu a França e a Suíça em 1791 e 1792, e as sua impressões da Revolução estão descritas no Prelude. Em 1798 apareceram Lyrical Ballads e em 1814 The Excursion. Entre os outros seus poemas contam-se The White Doe of Rylstone ( A Corça Banca de Rylstone), 1815; Peter Bell e The Waggoner (O carreiro), 1819; Sonnetz (1838). Morreu a 23 de Abril de 1850.
Nicéas Romeo Zanchett
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Nicéas Romeo Zanchett
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Muito bom! Gostei!
ResponderExcluirUm abraço!!
Obrigado pela visita, Malu.
ResponderExcluirAbração