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quarta-feira, 21 de abril de 2021

SAUDADES - por Alvares de Azevedo

 

Pintura de Romeo Zanchett 

SAUDADES

Foi por ti que num sonho de ventura

A flor da mocidade consumi...

E às primaveras disse adeus tão cedo

E na idade do amor envelheci. 

.

Vinte anos! derramei-os gota à gota

Num abismo de dor e esquecimento...

De fogosas visões nutri meu peito...

Vinte anos!... sem viver um só momento! 

.

Contudo, no passado uma esperança

Tanto amor e ventura prometia...

E uma virgem tão doce, tão divina, 

Nos sonhos junto a mim adormecia!...

......................................

Quando eu lia com ela... e no romance

Suspirava melhor ardente nota...

E Jocelyn sonhava com Laurence 

Ou Werther se morria por Carlota...

.

Eu sentia a tremer e a transluzir-lhe

Nos olhos negros a alma inocentinha... 

E uma furtiva lágrima rolando

Da face dela a umedecer a minha!

.

E quantas vezes o luar tardio 

Não viu nossos amores inocentes? 

Não embalou-se da morena virgem

No suspirar, nos cânticos ardentes? 

E quantas vezes não dormi sonhando

Eterno amor, eternas as as venturas... 

E que o céu ia abrir-se e entre os anjos

Eu ia despertar em noites puras?  

.

Foi esse o amor primeiro! requeimou-me 

As artérias febris de juventude, 

Acordou-me dos sonhos da existência

 Na harmonia primeira do alaúde. 

..............................

Meu Deus! e quantas eu amei... Contudo

Das noites voluptuosas da existência

Só restaram-me saudades dessas horas

Que iluminou tua alma de inocência.

.

Foram três noites só... três noites belas

De lua e de verão, no vai saudoso...

Que eu pensava existir... sentindo o peito

Sobre teu coração morrer de gozo. 

.

E por três noites padeci três anos, 

Na vida cheia de saudade infinita...

Três anos de esperança e de martírio...

Trêrs anos de sofrer - e espero ainda!

.

A ti se ergueram meus doridos versos, 

Reflexos sem calor de um sol intenso, 

Votei-os à imagem dos amores 

Pra velá-la la nos sonhos como incenso.

.

Eu sonhei tanto amor, tantas venturas, 

Tantas noites de febre e de esperança...

Mas hoje o coração parado e frio, 

Do meu peito descansa. 

.

Pálida sombra dos amores santos!

Passa quando eu morrer no meu jazigo, 

Ajoelha ao luar e entoa um canto...

Que lá na morte eu sonharei contigo. 

.

Nicéas Romeo Zanchett 

BIOGRAFIA DO AUTOR

Manuel Antônio Álvares de Azevedo, poeta brasileiro, nasceu na cidade de São Paulo a 12 de Setembro de 1831 e faleceu a 25 de Abril de 1852. Bacharel em letras pelo colégio Pedro II, matriculou-se na Academia de direito de São Paulo, mas faleceu antes de terminar o curso. Todas as suas obras foram póstumas. A primeira edição foi publicada em 1853. 

Nicéas Romeo Zanchett 

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