Total de visualizações de página

domingo, 8 de dezembro de 2013

BREVIDADE DA VIDA - Por Simonides



BREVIDADE DA VIDA 
Por Simonides - poeta grego

Não há para os homens estável ventura - 
O bem pouco dura - vem prestes o mal. 
"Das folhas das plantas semelha ao destino - 
O fato mofino - da raça mortal". 
.
Meônia sentença! Quão poucos humanos
Nos floridos anos - se lembram de ti! 
Sonhando delícias o moço descansa - 
Que doce  esperança - fagueira lhe ri. 
.
Planeia embebido na dita que goza - 
Na quadra viçosa - projetos aos mil: 
E vem entretanto frustrar-lhe os intentos - 
Com passos tão lentos - a idade senil. 
.
Em tal não cogita, são, válido e forte - 
Não pensa na morte - não teme o porvir. 
Ah! míseros, tanta fortuna inconstante - 
Que brilha um instante - vos pode iludir!
.
Mortais! Que aproveitam fadigas, desvelos! 
Os anos mais belos - quão cedo se vão! - 
Gozai: vem achaques, e a morte, não longe - 
Ah! não vos lisonje - funesta ambição. 
.
BREVE BIOGRAFIA DO AUTOR 
Simonides foi um poeta lírico da Grécia. Nasceu em Ceos, ilha do mar Egeu e uma das Cicladas, 505 anos antes de Cristo. A fama do seu engenho tornou-o aplaudido e festejado em Atenas, em Esparta e na corte de Hierão, tirano de Siracusa, onde morreu octogenário. Este poeta foi o criador da elegia  plangente. 
Nicéas Romeo Zanchett .
.
LEIA TAMBÉM >>> 



DO AMOR MORDIDO DE UMA ABELHA - Por Theocrito



DO AMOR MORDIDO DE UMA ABELHA 
Por Theocrito - poeta grego. 
.
De uma abelha o amor na mão mordido, 
Chorando à mãe se foi todo espantado
De ser de tão pequena ave ferido, 
E ficar da ferida tão cortado; 
Vênus, vendo o menino assim corrido, 
E da dor grande e nova tão tomado, 
Lhe disse; "Deixa os choros, e os espantos, 
Que também és pequeno, e feres tanto". 
.
BREVE BIOGRAFIA DO AUTOR 
Theocrito, poeta grego, nasceu em Siracusa a 310 ou 300 antes de Cristo. Autor de "Idílios e de Epigramas", foi o criador do gênero bucólico ou pastoril, em que ninguém o excedeu. 
Nicéas Romeo Zanchett 
.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

TROMBA MARINHA - Luiz de Camões


TROMBA MARINHA 
Retirado dos Lusíadas de Luiz de Camões 
.
Os casos vi, que os rudos marinheiros, 
Que tem por mestra a longa experiência, 
Contam por certo sempre, e verdadeiros, 
Julgando as coisas só pela aparência, 
E que os que tem juízos mais inteiros, 
Que só por puro engenho e por ciência
Vêem do mundo os segredos escondidos, 
Julgam por falsos, ou mal entendidos. 
.
Vi claramente visto o lume vivo
Que a marítima gente tem por santo, 
Em tempo de tormenta e vento esquivo, 
De tempestade escura e triste pranto. 
Não menos foi a todos excessivo
Milagre, e coisa certa de alto espanto, 
Ver as nuvens do mar, com largo canto, 
Sorver as alfas águas do oceano. 
.
Eu vi certamente (e não presumo 
Que a vista me enganava) levantar-se
No ar um vaporzinho de sutil fumo
E do vento trazido, rodear-se; 
De aqui levado um cano ao polo sumo
Se via, tão delgado que enxergar-se 
Dos olhos facilmente não podia; 
Da matéria das nuvens parecia. 
.
Ia-se pouco a pouco acrescentando, 
E mais que um largo mastro se engrossava; 
 Aqui se estreita; aqui se alarga, quando 
Os golpes grandes de água em si chupava; 
Estava-se co'as ondas ondeando; 
Em cima dele uma nuvem se espessava, 
Fazendo-se maior, mais carregada
Co'o cargo grande d'água em si tomada. 
.
Qual roxa sangrenta se veria
Nos beiços da alimária (que imprudente,
Bebendo a recolheu na fonte fria)
Fartar co'o sangue alheio a sede ardente; 
Chupando mais e mais se engrossa e cria, 
Ali se enche e se alarga grandemente; 
Tal a grande coluna, enchendo, aumenta
A si e a nuvem negra que sustenta.
.
Mas depois que de tudo se fartou, 
O pé que tem no mar a si recolhe, 
E pelo céu chovendo enfim voou, 
Porque co'a água a jacente água molhe; 
Às ondas torna as ondas, que tomou, 
Mas o sabor do sal lhe tira o tolhe. 
Vejam agora os sábios na escritura, 
Que segredos são estes da natura! 
.

NOTA 
 Retirado dos Lusíadas de Luiz de Camões e adaptado para a nossa linguagem atual. 
Nicéas Romeo Zanchett 
LEIA TAMBÉM >>> CONTOS E FÁBULAS DO ROMEO



domingo, 10 de novembro de 2013

PERIGO PARA A HUMANIDADE - Nicéas Romeo Zanchett

O PERIGO PARA A HUMANIDADE 
Por Nicéas Romeo Zanchett 
.
                   O maior perigo para a humanidade é o homem perder o sentimento de culpa. 
Nicéas Romeo Zanchett 
.
                   "A vida não é um prazer nem uma dor, mas um encargo grave de que estamos encarregados e que é preciso terminar com honra - 
De Tocqueville. 
A DEMOCRACIA ESTÁ AGONIZANDO
Em todos os países democráticos o poder tem corrompido. A Grécia está quebrada; o excesso de benesses concedidos a políticos e funcionários públicos privilegiados está levando o país falência. Isto irá acontecer também ao Brasil que, além das benesse concedidas aos aliados do governo, distribui o dinheiro do povo para países administrados por ditadores sanguinários. Cuba e África são apenas um simples exemplo. 
A democracia, que deveria representar o povo no poder, na verdade criou desigualdades. Pense em quanto ganha um político ou funcionário privilegiado, mesmo depois de aposentado. Quanto ao pobre que votou terá dificuldade de receber seu salário mínimo. Qualquer político eleito tem direito a tudo de graça, inclusive apartamentos funcionais.
Os privilegiados são atendidos gratuitamente nos melhores hospitais, enquanto os homens comuns que os elegeram morrem nas macas em  fétidos corredores ou ambulâncias. 
A democracia deveria proteger o povo, mas, em vez disso, tem facilitado que bandidos, estelionatários e criminosos cheguem ao poder e tenham até imunidade parlamentar. 
Diariamente a Polícia Federal brasileira prende políticos e funcionários públicos corruptos em todos os níveis governamentais do nosso país. Em seguida a justiça, que eles mesmo criaram, os solta. 
O BRASIL É O MAIOR EXEMPLO DE TODA ESSA SITUAÇÃO. 
Você tem coragem de chamar isso de democracia? 
Lutamos para implantar uma democracia e hoje estamos pagando o preço; nem mais podemos sair às ruas para não levar uma bala perdida. No tempo do Regime Militar isso não acontecia. 
Nicéas Romeo Zanchett 


.

CANÇÃO DOS PIRATAS - Por Lord Byron


CANÇÃO DOS PIRATAS 
Por Lord Jorge Noel Gordon Byron 
(Lord Byron)
.
Sobre as ondas do mar azul ferrete 
Sem limites são nossos pensamentos, 
E como as ondas, nossas almas livres. 
Cobrindo a vaga da fervente escuma 
Nós temos uma pátria! Eis os domínios 
Onde flutua o pavilhão que é nosso, 
Cetro a que devem humilhar-se todos!
Turbulenta e selvagem quando passa 
Da luta ao ócio, em tais alternativas 
A vida para nós tem mil encantos!
Mas estes, oh! quem pode descrevê-los? 
Não será tu, escravo dos deleites, 
Tu, que ao ver-te no cimo inconsciente
Das alterosas vagas desmaiaras! 
Não será tu, vaidoso aristocrata, 
Educado no vício e na opulência, 
Tu, que nem podes repousar no sono, 
nem achar atrativos nos prazeres. 
Oh! quem pode no mundo compreendê-los? 
A não ser o incansável peregrino
Destes plainos que ficam sem vestígios, 
Do qual o coração afeito aos perigos
pula orgulhoso em delirante júbilo 
Quando se vê sobre o revolto abismo! 
Só ele presa a luta pela luta
E espera ansioso a hora do combate. 
Quando o fraco esmorece apenas sente 
No mais profundo do agitado seio
A esperança que vivia desponta
E o fogo da coragem que se acende!
Não nos assusta a morte, oh! não, contanto
Que a nossos pés sucumba o inimigo. 
E contudo mais triste que o repouso
Ainda parece a morte! mas embora, 
Embora, oh! pode vir! ao esperá-la
Vai-se exaurindo a essência desta vida, 
E quando ela se acaba pouco importa! 
Cair pela doença ou pela espada! 
Haja um ente que prese ainda algum resto
De existência senil! viva aspirando
Sobre o leito da dor um ar pesado, 
Erguendo a custo a trêmula cabeça!  
Para nós são as relvas florescentes!
Enquanto essa alma expira lentamente
Foge a toda a pressão dum salto a nossa!
Possa ainda ufanar-se esse cadáver, 
Da cova estreita e do marmóreo túmulo 
Que a vaidade dos seus lhe consagrara! 
São raras, mas sinceras nossas lágrimas, 
Quando o oceano abrindo-se sepulta
No vasto seio os nossos camaradas! 
Ainda mesmo no meio dos banquetes 
Funda tristeza nos rebenta d'alma
Quando a purpúrea taça erguendo aos lábios 
A memória dos nossos coroamos. 
E o seu breve epitáfio é redigido
Ao pôr do sol do dia da batalha, 
Ao dividir as presas da vitória, 
Quando a exclamam os rudes vencedores
Com a fonte anuviada de saudades:
"Ai, de nós! como os bravos que morreram 
Folgariam ditosos nesta hora! 
Lord Byron 

Nicéas Romeo Zanchett 






A ALEGRIA - Por Goethe


Libelinha 
A ALEGRIA 
Por Goethe 

Sobre a corrente esvoaça 
A libelinha inconstante; 
Vejo-a, sigo-a e o tempo passa... 
Ora escura, ora brilhante, 
É como um camaleão; 
Rubra, azul, verde, num instante
Perde as cores e as recupera; 
Essas cores, ai! quem me dera 
Vê-las bem, aqui na mão! 
Zumbe e adeja, buliçosa, 
Até que num salgueiro pousa. 
Caço-a, mas das cores que havia, 
Vejo, ao vê-la atentamente, 
Um tristonho azul somente. 
.
Tal vos sucede, anatomistas da alegria! 
.
VEJA TAMBÉM >>> AS FABULAS DE ESOPO
.
Nicéas Romeo Zanchett 


O CAIR DAS FOLHAS - Por Millevoye


O CAIR DAS FOLHAS 
Por Carlos Hubert Millevoye 
.
Do outono o ríspido sopro
De folhas o chão cobriu; 
O rouxinol não gorjeia; 
Seu manto o bosque despiu. 
Enfermo, já morto quase, 
Posto da vida na aurora, 
Jovem triste, a passo lento, 
Inda uma vez divagava
No bosque amigo de outrora: 
"Adeus, ó cara floresta; 
No teu dó estou a ler
A minha sorte funesta: 
Dentro em pouco hei de morrer. 
.
Da ciência a voz fatal
Meu termo cruel prediz: 
Não tornarás estas folhas
A ver secar, infeliz! 
Cerca-te a noite do túmulo; 
Mais que o outono desmaiado, 
Para ele a caminhar, 
Tu, no mundo mal entrado, 
Antes da relva do prado
Para sempre hás de murchar.
.
E morro!... Um gélido vento
Pela face me roçou;
Morro! E a minha primavera 
Como sombra se escoou!
.
"Cai, efêmera folhagem; 
Cem esta senda encobrir 
A minha mãe; que não sabia 
Onde o filho vai dormir. 
Mas, se, ao fenecer da tarde, 
Minha amante a soluçar
Na alameda, consternada, 
O meu fim vier chorar, 
Com teu leve som acorda, 
Quebra o fundo sono meu; 
Que a veja ainda na terra
Como um conforto do céu". 
.
Assim disse; após instantes 
Foi-se; e nunca mais voltou! 
Do bosque a última folha
Teu dia extremo marcou! 
À sombra de alto carvalho
O sepulcro lhe cavaram; 
Mas as lágrimas da amante
Nunca a pedra lhe regaram! 
Só às vezes, quando, acaso, 
O pastor ali passava, 
Aquela mudez  da morte
Com seus passos acordava.
.
BREVE BIOGRAFIA 
              Carlos Hubert Millevoye, poeta francês, nasceu em Abbeville em 1782, e morreu em Paris em 1816. A sua infância, enferma, desenvolveu nele uma melancolia mórbida. Fez seus estudos em Paris, entrou para o escritório de um procurador, e depois para uma livraria. Ali teve sua oportunidade de conviver com a cultura literária. Publicou um volume de poesias em 1801; de 1804 a 1812 tomou parte em vários concursos acadêmicos que lhe deram celebridade. Depois publicou a segundo coleção, da qual faziam parte as poesias Le Poète mourant e La Chute des fewilles. Citam-se ainda, da sua pena Le Beau-Lys, Le Deguisement, Homère mendiant, Danaé, etc. Escreveu também, mas sem êxito, vários poemas heroicos.  Prevendo a sua morte, e para breve, cantou a sua aproximação em versos que muito impressionaram os seus contemporâneos. 
Nicéas Romeo Zanchett 
.
               



CHILDE - HAROLD - Por Lord Byron


CHILD - HAROLD 
Por Lord Byron 
 Childe-Harold é o nome de um navio antigo. 
.
Singra o navio ufano...
Vão dois vultos à popa, e o corpo informe
    Do morto guardam - mudas sentinelas. - 
O luar enche o oceano, 
E, como as asas de um vampiro enorme, 
Abre o dragão marinho as largas velas... 
.
Atrás dele a onda talhada
Desprega alvos lençóis de espuma, ardendo
Em luz fosfórea que os bulcões avivam;
E a túnica estrelada
Da mirífica noite, resplendendo 
Com alfinetes de ouro, os astros crivam... 
.
Cheios de estranha magoa 
Da infausta morte, os gênios do ar, errantes, 
Choram... Os mastros e o vergame implexos
Cruzam-se; e ondulam n'água, 
Como peixes de fogo, coruscantes, 
Áureos círculos, trêmulos reflexos... 
.
Soluçam as ondinas, 
Inconsoláveis noivas, o desejo
Dessa formosa vida sopesando...
Como em largas buzinas, 
Sopra o vento do mar, no pardo bojo
Das amplas velas côncavas, cantando... 
.
Lord Byron 

BREVE BIOGRAFIA 
            Lord Jorge Noel Gordon Byron, poeta inglês, nasceu em Londres a 22 de Janeiro de 1788. Foi educado em Harrow e Cambridge. Depois de viajar pela Europa Ocidental, casou com Miss Millbanke; união desgraçada que o fez abandonar a Inglaterra indo residir na Itália. 
            Em 1823 uniu-se aos insurgentes gregos, vindo a morrer em Missolonghi a  24 de Abril de 1827, vítima de uma intensa febre. As suas principais obras são: Child-Harold; Don Juan; Manfred; Cain; The Corsair (O Corsário); Lara; Brid of Abydos (A noite de Ábydos) e Mazeppa.
Nicéas Romeo Zanchett 
.
LEIA TAMBÉM >>> GOTAS DE LITERATURA UNIVERSAL  




quinta-feira, 7 de novembro de 2013

ÁS GOTAS DE NÉCTAR - Por Goethe


ÁS GOTAS DE NÉCTAR 
Por Goethe 
.
Ao dileto Prometeu, 
Minerva, por alta graça, 
Levou, descendo do céu, 
De néctar cheia, áurea taça; 
De o meter com o fim oculto, 
A ele e aos seus companheiros, 
Das belas-artes no culto, 
Corria com pés ligeiros
Não fosse Júpiter vê-la...
Tremeu-lhe a taça na mão 
E derramadas viu ela 
Algumas gotas no chão. 
.
Lidando perto, uma abelha
Logo a beber se aparelha; 
A borboleta, num instante, 
Umas gotinhas apanha; 
E até a disforme aranha
Bebe também... e bastante. 
.
Beberam, e em boa hora! 
Esses bichos e outros tantos
Fruem com os homens agora
Da Arte os sumos encantos. 
.
BREVE BIOGRAFIA
              João Wolfgang Goethe, o mais célebre dos poetas alemães, nasceu em Frankfurt, sobre o Meno, a 28 de Agosto de 1749 e morreu em Weimar a 22 de março de 1882. Cursou a Universidade de Leipzig, principiando pouco depois a escrever dramas e poesias. Doutorou-se em Estrasburgo e exerceu a advocacia  em Frankfurt. Em 1771 escreveu Götz de Berlichingen, O Caminhante e o Conto de Tempestade do Caminhante. No ano seguinte  fixou residência em Wetzlar, como advogado, mas teve que fugir dessa cidade por causa de uma intriga de amor. Em 1773 escreveu o Prometeu, algumas sátiras burlescas, a comédia Erwin e Elmira e principiou o Fausto.  Em 1774 Os infortúnios de Werther, e em 1775 estabeleceu-se em Weimar, onde foi conselheiro privado do duque e funcionário público muito útil. 
               Dedicou-se às ciências naturais, fazendo notáveis descobertas. Em 1777 começou Os anos de aprendizagem de Guilherme Meister. Escreveu Efigênia em prosa, em 1779, e em verso em 1786. Acabou o Egmont em 1787 e o Tasso em 1789. Em 1791 foi diretor do teatro da Corte em Weimar e de 1794 a 1805 associou-se a Schiller, dirigindo ambos a revista literária Horen. Acabou em 1796 Os anos de aprendizagem de Guilherme Meister, em 1797 Hermann e Dorothea, em 1809 As afinidades Eletiva, em 1840 A Doutrina da Cor e em 1811 a sua autobiografia Fantasia e verdade. Em 1815 publicou um volume de poesias intitulado Divã Oriental e Ocidental e em 1821 Os anos de viagem de Guilherme Meister, mistura de diferentes fragmentos ordenados pelo seu secretário. Em 1831 terminou a segunda parte do Fausto.  
                O seu romance Werther, em forma de cartas, é a narração de uma aventura sentimental, cujos elementos o poeta encontrou na sua própria vida.  
Nicéas Romeo Zanchett 
.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

AINDA UMA VEZ, ADEUS! Por Gonçalves Dias


AINDA UMA VEZ, ADEUS!
Por Gonçalves Dias
.
Emfim te vejo! emfim posso, 
Curvado a teus pés, dizer-te 
que não cessei de querer-te, 
Pesar de quanto sofri. 
Muito penei! Cruas ânsias, 
De teus olhos afastado, 
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
.
De um mundo a outro impelido
Derramei os meus lamentos
Nas surdas azas dos ventos, 
Do mar na crespa cerviz! 
Baldão, ludibrio da sorte, 
Em terra estranha, entre gente
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!  
.
Louco, aflito, a saciar-me 
De agravar minha ferida, 
Tomou-me tédio da vida, 
Passos da morte senti; 
Mas quase no passo extremo, 
No último arcar da esperança, 
Tu me vieste à lembrança, 
Quiz viver mais e vivi!
.
Vivi, pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto senhora!
Ver-te e falar-te outra vez; 
Rever-me em teu rosto amigo, Pensar em quanto hei sofrido
E este pranto dolorido
Deixar corre a teus pés. 
.
Mas que tens? Não me conheces?  
De mim afastas teu rosto?  
Pois tanto pode o desgosto
Transformar o rosto meu? 
Sei a aflição quanto pode,
Sei quanto ela desfigura, 
E eu não vivi na ventura...
Olha-me bem, que sou eu!
.
Nem uma voz me diriges! 
Julgas-te acaso ofendida? 
Deste-me amor, e a vida
Que me darias, bem sei; 
Mas lembrem-te aqueles feros 
Corações que se meteram
Entre nós; e se venceram, 
Mal sabes quanto lutei!
.
Oh! se lutei! Mas devera 
Expor-te em pública praça 
Como um alvo à populaça,
Um alvo aos ditérios seus?
Devera, podia acaso, 
Tal sacrifício aceitar-te, 
Para no cabo pagar-te, 
Meus dias unindo os teus? 
.
Devera, sim; mas pensava
Que de mim te esquecerias, 
Que, sem mim, alegres dias 
Te esperavam; e era favor 
De minhas preces, contava
Que o bom Deus, me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu quinhão de dor!
.
Que me enganei, ora vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te o peito, e no entanto
Nem me podes encarar; 
Erro foi, mas não foi crime; 
Não te esqueci, eu to juro, 
Sacrifiquei meu futuro, 
Vida e glória por te amar!
.
Tudo, tudo; e na miséria 
De um martírio prolongado, 
Lento, cruel, disfarçado
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
Seu destino é obra minha". 
Negou-mo a sorte mesquinha...
Perdoa, que me enganei!
.
Tantos encantos me tinham, 
Tanta ilusão me afagava 
De noite, quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde para? 
Onde a ilusão dos meus sonhos
Tantos projetos risonhos, 
Tudo esse engano desfez! 
.
Enganei-me! - Horrendo chãos 
Nessas palavras se encerra, 
Quando do engano, quem erra, 
Não pode voltar atras!
Amarga irrisão! Reflete; 
Quando eu gozar-te pudera, 
Mártir quis ser, cuide que era..
E um louco fui, nada mais!
.
Louco, julguei adornar-me
Com palmas de alva virtude! 
Que tinha eu, bronco e rude, 
Com o que se chama ideal? 
O meu eras tu, não outro;
Estava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida, 
Pura, na ausência do mal. 
.
Pensar eu que o teu destino 
Ligado ao meu, outro fora; 
Pensar que te vejo agora, 
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus "ab eterno" a fizera, 
No meu caminho pusera...
E eu... fui eu que a não quis!
.
És de outro agora e pra sempre! 
Eu a mísero desterro
Volto chorando o meu erro, 
Quase descrendo dos céus. 
Dói-te de mim, pois me encontras
Em tanta miséria posto, 
Que a expressão deste desgosto 
Será um crime ante Deus!
.
Dói-te de mim, que te imploro
Perdão, a teus pés curvado; 
Perdão de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria, 
Da dor que me rala o peito, 
E, se do mal que te hei feito, 
Também do mal que me fiz!
.
Adeus, que eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida comigo, 
Ter sepultura entre os meus; 
Negou-me nesta hora extrema
Por extrema despedida, 
Ouvir-te a voz comovida, 
Soluçar em breve adeus! 
.
Lerás, porém, algum dia 
Meus versos, da alma arrancados, 
De amargo pranto banhados, 
Com sangue escritos, e então, 
Confio que te comovas, 
Que a minha dor te apiade, 
Que chores, não de saudade, 
Nem de amor: - de compaixão!
.
Pesquisa e postagem: Nicéas Romeo Zanchett 






segunda-feira, 16 de setembro de 2013

AMIZADE QUEBRADA - Por Samuel Taylor Coleridge


AMIZADE QUEBRADA 
Por Samuel Taylor Coleridge 
.
Eram amigos na mocidade; 
Mas línguas vis ferem a verdade
E só do céu da constância a chama, 
E a juventude é vaidosa, e dura
A vida. O irar-se contra quem se ama
cai sobre o espírito como uma loucura...
.
De alto desdem ambos eles falaram, 
Cada um àquele que mais amou; 
E para sempre se separaram!
Mas nenhum deles outro encontrou
Que lhe aliviasse a alma entristecida; 
Ficaram à parte sondando a ferida, 
Sós, quais rochedos; o mar sombrio, 
Somente hoje entre eles mora; 
Mas não há raio, calor nem frio
Que possa de todo apagar agora
Sinais daquilo que foi outrora.
.
BREVE BIOGRAFIA 
Samuel Taylor Coleridge, poeta inglês, nasceu em Ottery St.mary, a 21 de outubro de 1772. frequentou a Universidade de Cambridge, tomando grau em 1792. Com Southey e outros formou oprojeto de um estabelecimento comunista na América, mas ficou na Inglaterra, dedicando-se á literatura. O seu primeiro volume de versos apareceu em 1794; colaborou nas Lyrical Ballads (Baladas Líricas), com Wodsworth em 1798. Fora destes , os seus principais poemas são Chistabel e Kubla Khan. Foi também prosador, escrevendo sobre literatura e filosofia. Faleceu a 25 de Julho de 1834. 
Nicéas Romeo Zanchett 
.



LUCY - Por Guilherme Wordsworth - Trad. Fernando Pessoa


LUCY 
Obra de Guilherme Wordsworth 
Tradução de 
Fernando Pessoa 
.
De ínvias fontes ao pé vivia ela, 
E de escusos caminhos; 
Ninguém dava louvores à donzela, 
Muito poucos, carinhos; 
.
Uma violeta de uma pedra ao pé, 
Meio oculta ao olhar! 
- Bela como uma estrela quando é 
A única a brilhar! 
.
Viveu só. Pouca gente saberia
Quando foi seu fim; 
Mas está morta, morta, e - oh agonia! - 
A diferença pra mim!...
.
Três anos, noite e dia, cresceu ela, 
E a natureza disse: "Flor mais bela
Nunca a terra antes tinha"; 
Tomarei para mim esta criança, 
E farei dela, com sutil mudança
Uma senhora minha. 
.
" À minha predileta impulso e lei
Saberei ser, e ao pé de mim farei
Que ela possa sentir
Em céu e terra, na floresta ou mar, 
Um Supremo Poder para a animar
Ou para dirigir. 
.
Ela alegre será como a donzela
Que corre louca pelo prado, ou pela 
Fria montanha aérea; 
Dela será a fresca e simples alma, 
Cheia de grave e silenciosa calma
Das coisas da matéria. 
.
Às nuvens dar-lhe-hão a sua graça, 
E o vime a sua, quando o venta passa; 
Nem lhe será escuro
Na própria tempestade o ritmo informe
Que em beleza o seu corpo vigem forme
Por um influxo obscuro. 
.
As estrelas da noite ser-lhe-hão caras, 
O ouvido inclinará para as fontes claras, 
E onde a aragem passe
E os cantos dos rivais riachos misture-os;
E a beleza nascida dos murmúreos
Passar-lhe-há para a face. 
.
E vitais sentimentos de alegria
dar-lhe-hão a graça desenvolta e esguia, 
E à tez suave matiz; 
Darei a Lucy estes pensamentos, 
E viveremos límpidos momentos
Nesta estância feliz."
.
 E a natureza fez como falou. - 
Mas ah! quão cedo Lucy nos deixou! 
Morreu, deixou-me cá
Este prado, esta calma que me dói, 
A memória de tudo quanto foi 
E nunca mais será. 
.
Um sono o meu espírito fechava
Pra receios humanos; 
Ela parecia coisa já não escrava 
Do contato dos anos. 
.
Já não ouve nem vê, nem força nua
Ou movimento encerra; 
Arrastada com a rocha e a erva sua
Na rotação da terra. 
.
   BREVE BIOGRAFIA 
Guilherme Wordsworth, poeta inglês, nasceu em Cockermouth a 7 de Abril de 1770 e foi educado em Hawkshead e na Universidade de Cambridge. Percorreu a França e a Suíça em 1791 e 1792, e as sua impressões da Revolução estão descritas no Prelude. Em 1798 apareceram Lyrical Ballads e em 1814 The Excursion. Entre os outros seus poemas contam-se The White  Doe of Rylstone ( A Corça Banca de Rylstone), 1815; Peter Bell e The Waggoner (O carreiro), 1819; Sonnetz (1838). Morreu a 23 de Abril de 1850.
Nicéas Romeo Zanchett 
LEIA TAMBÉM >>> GOTAS DE LITERATURA UNIVERSAL




sexta-feira, 30 de agosto de 2013

SONETOS - Por Bocage


SONETOS 
Por Bocage 
A EXISTÊNCIA DE DEUS, 
PROVADA PELAS OBRAS DA CRIAÇÃO 

Os milhões de áureos lustres coruscantes 
Que estão d'azul abobada pendendo;
O sol, e a que ilumina o trono horrendo
Dessa, que anima os ávidos amantes;
.
As vastíssimas ondas arrogantes, 
Serras de espuma contra os céus erguendo, 
A leda fonte humilde o chão lambendo, 
Lourejando as searas flutuantes; 
.
O vil mosquito, a próvida formiga, 
A rama chocalheira, o trono mudo,
Tudo que há Deus a confessar me obriga; 
.
E para crer num braço, autor de tudo,
Que recompensa os bons, que os maus castiga, 
Não só da fé, mas da razão me ajudo. 
.
ALUDINDO À PROFECIA DE ISAÍAS 
.
Queimando o véu dos séculos futuros
O vate, aceso em divinais luzeiros, 
Assim cantou (e aos ecos pregoeiros
Exultaram, Sion, teus sacros muros); 
.
O justo descerá dos astros puros
Em deleitosos, cândidos chuveiros, 
As feras dormirão com os cordeiros, 
Suarão doce mel carvalhos duros; 
.
"A virgem será mãe; vós dareis flores, 
Brenhas intonsas, em remotos dias; 
Porás fim, torva guerra, a teus horrores."
.
Não, não sonhou o altíssimo Isaías; 
Oh reis, ajoelhai, correi, pastores! 
Eis a prole do Eterno, eis o Messias!
.

À PAIXÃO DE JESUS CRISTO 
.
O filho do gran' rei, que a monarquia
Tem lá nos céus, e que de si procede, 
Hoje mudo e submisso à fúria cede. 
De um povo, que foi seu, que à morte o guia; 
.
De trevas de pavor se veste o dia, 
Inchando o mar o seu limite excede, 
Convulsa a terra por mil bocas pede
Vingança de tão nova tirania; 
.
Sacrilégio mortal, que espanto ordenas, 
Que ignoto horror, que lúgubre aparato!...
Tu julgas teu juiz !... Teu Deus condenas!
.
Ah ! Castigai, Senhor, o mundo ingrato; 
Caiam-lhes as maldições, chovam-lhes as penas, 
Também eu morra, que também vos mato. 
.

INVOCANDO O AMPARO DA VIRGEM SANTÍSSIMA
.
Tu, por Deus entre todas escolhida, 
Vigem das virgens, tu, que do assanhado
Tartáreo monstro com teu pé sagrado
Esmagaste a cabeça entumecida; 
.
Doce abrigo, santíssima guarida
De quem te busca em lágrimas banhado, 
Corrente com que as nódoas do pecado
Lava uma alma, que geme arrependida;
.
Virgem, de estrelas nítidas coroada, 
Do Espírito, do Pai, do Filho eterno
Mãe, filha, esposa, e mais que tudo amada; 
.
Valha-me o teu poder e amor materno;
Guia este cego, arranca-me da estrada, 
Que vai parar ao tenebroso inferno! 
.

AFETOS DUM CORAÇÃO CONTRITO
.
Ó rei dos reis, ó árbitro do mundo, 
Cuja mão sacro-santa os maus fulmina, 
E cuja voz terrifica e divina
Lúcifer treme no seu caos profundo! 
.
 Lava-me as nódoas do pecado imundo, 
Que as almas cega, as almas contamina; 
O rosto para mm piedoso inclina, 
Do eterno império teu, do céu rotundo; 
.
Estende o braço, a lágrimas propício, 
Solta-me os ferros, em que choro e gemo
Na extremidade já do precipício;
.
De mim próprio me livra, ó Deus supremo! 
Porque o meu coração propenso ao vício
É, Senhor, o contrário que mais temo. 
.

DEPRECATÓRIO, EM OCASIÃO DE TEMPESTADE
.
Filho, Espirito e Pai, três e um somente, 
Que extraíste do caos, do pó, do nada
O sol dourado, a lua prateada, 
O racional, e irracional vivente; 
.
Eterno, justo, imenso onipotente, 
Que ocupas essa abóbada estrelada, 
Gran'Ser, de cuja força ilimitada
 A máquina do mundo está pendente; 
.
Tu, que, se queres, furacão violento, 
Sumatra feia, tempestade escura
Desatas, e subjugas num momento;
.
Criador, que remiste a criatura, 
Quebra o furor do túmido elemento, 
Que nos abre no inferno a sepultura! 
.

CONFORMIDADE COLHIDA NA RELIGIÃO 
.
 Se considero o triste abatimento
Em que me faz jazer minha desgraça, 
A desesperação me despedaça
No mesmo instante o frágil sofrimento;
.
Mas súbito me diz o pensamento 
Para aplacar-me a dor, que me trespassa, 
Que este, que trouxe ao mundo a lei da graça, 
Teve num vil presépio o nascimento. 
.
Vejo na palha o Redentor chorando, 
Ao lado a mãe, prostrados os pastores, 
A milagrosa estrela os reis guiando;
.
Vejo-o morrer depois, oh pecadores, 
Por nós, e fecho os olhos adorando
Os castigos do céu como favores. 
.


BREVE BIOGRAFIA 
Manuel Maria Barbosa du Bocage, poeta português, nasceu em Setúbal a 15 de setembro de 1765 e morreu a 21 de Dezembro de 1805. Cursou os estudos militares, e como guarda-marinha partiu para a índia, fazendo-se notar em Goa pela virulência dos seus versos. Destacado para Damão fugiu para a China, indo ter ao fim de muitos trabalhos a Macau, e regressando a Portugal em 1790. As lutas da Nova Arcádia, pela exclusão que lhe infligiram, puseram em relevo o gênio de Bocage. Ele e os seus companheiros frequentavam o botequim do Nicola em um retiro especial conhecido pelo nome de "Agulheiro de Sábios". Em 1797 foi preso por autoria de "Papéis ímpios e sediciosos". Entre esses papéis ímpios achados na residência de Bocage, os principais eram as poesias conhecidas pelos nomes  de "A voz da Razão e Pavorosa". Dotado de raras faculdades, esbanjou seu talento em improvisações. Acabou a vida traduzindo poemas didáticos franceses, de delille, Castel, Rosset, Lacroix.  Bocage exerceu considerável influência na metrificação portuguesa, tornando o verso mais harmonioso. Deixou Odes, elegias, idílios, canções, sátiras, epístolas, etc., Mas são sobretudo notáveis os seus sonetos. 
Nicéas Romeo Zanchett 
.