Total de visualizações de página

domingo, 10 de novembro de 2013

O CAIR DAS FOLHAS - Por Millevoye


O CAIR DAS FOLHAS 
Por Carlos Hubert Millevoye 
.
Do outono o ríspido sopro
De folhas o chão cobriu; 
O rouxinol não gorjeia; 
Seu manto o bosque despiu. 
Enfermo, já morto quase, 
Posto da vida na aurora, 
Jovem triste, a passo lento, 
Inda uma vez divagava
No bosque amigo de outrora: 
"Adeus, ó cara floresta; 
No teu dó estou a ler
A minha sorte funesta: 
Dentro em pouco hei de morrer. 
.
Da ciência a voz fatal
Meu termo cruel prediz: 
Não tornarás estas folhas
A ver secar, infeliz! 
Cerca-te a noite do túmulo; 
Mais que o outono desmaiado, 
Para ele a caminhar, 
Tu, no mundo mal entrado, 
Antes da relva do prado
Para sempre hás de murchar.
.
E morro!... Um gélido vento
Pela face me roçou;
Morro! E a minha primavera 
Como sombra se escoou!
.
"Cai, efêmera folhagem; 
Cem esta senda encobrir 
A minha mãe; que não sabia 
Onde o filho vai dormir. 
Mas, se, ao fenecer da tarde, 
Minha amante a soluçar
Na alameda, consternada, 
O meu fim vier chorar, 
Com teu leve som acorda, 
Quebra o fundo sono meu; 
Que a veja ainda na terra
Como um conforto do céu". 
.
Assim disse; após instantes 
Foi-se; e nunca mais voltou! 
Do bosque a última folha
Teu dia extremo marcou! 
À sombra de alto carvalho
O sepulcro lhe cavaram; 
Mas as lágrimas da amante
Nunca a pedra lhe regaram! 
Só às vezes, quando, acaso, 
O pastor ali passava, 
Aquela mudez  da morte
Com seus passos acordava.
.
BREVE BIOGRAFIA 
              Carlos Hubert Millevoye, poeta francês, nasceu em Abbeville em 1782, e morreu em Paris em 1816. A sua infância, enferma, desenvolveu nele uma melancolia mórbida. Fez seus estudos em Paris, entrou para o escritório de um procurador, e depois para uma livraria. Ali teve sua oportunidade de conviver com a cultura literária. Publicou um volume de poesias em 1801; de 1804 a 1812 tomou parte em vários concursos acadêmicos que lhe deram celebridade. Depois publicou a segundo coleção, da qual faziam parte as poesias Le Poète mourant e La Chute des fewilles. Citam-se ainda, da sua pena Le Beau-Lys, Le Deguisement, Homère mendiant, Danaé, etc. Escreveu também, mas sem êxito, vários poemas heroicos.  Prevendo a sua morte, e para breve, cantou a sua aproximação em versos que muito impressionaram os seus contemporâneos. 
Nicéas Romeo Zanchett 
.
               



Nenhum comentário:

Postar um comentário