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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

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A NELSON por Bocage

Precavendo os vai-e-vens da instável sorte, 

E do britano herói zelando a glória, 

Sem mancha, sem desar, dá-lo á memória

Pelas ondas fatais jurou Movarte:


Nelson! Raio do sul! Raio do Norte!

Crestas na lide ao galo e ovante história

Do horror a par de ti surge a vitória;

E louros imortais de cinge a morte.


Não com dor, não com ais e trácio nume

No toro funeral te vê lançado,

Em teus olhos extinto e márcio lume;


Vai (diz) folgar no Olimpo, aluno amado;

O triunfo até aqui foi teu costume,

Do que era teu costume eu fiz teu fado.


Pesquisa e postagem:  Nicéas Romeo Zanchett 


CANÇÃO NOTURNA DE UM VIAJANTE - Por Goethe

 


Por sobre as cumeeiras

Tudo em descanso jaz, 

Nestas regiões cimeiras

Apenas ouvirás 

Um bafo, um sopro leve; 

Dorme a avezinha em paz...

Espera um pouco, em breve

Também descansarás. 


Pesquisa: Nicéas Romeo Zanchett 



sexta-feira, 11 de agosto de 2023

A ÚLTIMA ROSA DE VERÃO - Por Tomas Moore

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É a última rosa

Do verão, sozinha; 

Nenhuma outra resta

Formosa e vizinha, 

Nenhuma irmã sua

Ou botão de rosa

Responde aos suspiros

que exala, formosa.

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Não quero deixar-te

Sozinha a florir:

Tuas irmãs dormem, 

Vai também dormir.

Por isso eis que espalho 

Tuas folhas no chão, 

Onde as irmãs tuas

Já mortas estão. 

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Tão breve eu vá quando

Os que amo fugirem, 

E do anel do amor

As joias caírem. 

Caídos os que ama

No sonho profundo, 

Quem habitaria

Sozinho este mundo? 

1769

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

AS FLORES E OS PINHEIROS - por Machado de Assis

 





Vi os pinheiros no alto da montanha

Ouriçados e velhos; 

E ao sopé da montanha, abrindo as flores

Os cálices vermelhos. 

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Contemplando os pinheiros da montanha, 

As flores tresloucadas

Zombam deles enchendo o espaço em torno

De alegres gargalhadas.

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Quando o outono voltou, vi na montanha

Os meus pinheiros vivos,

Brancos de neve, e meneando ao vento

Os galhos pensativos. 

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Volvi ao sítio onde escutara

Os risos mofadores; 

Procurei-as em vão; tinham morrido

As zombeteiras flores. 

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Nicéas Romeo Zanchett 

LUZ ENTRE SOMBRAS - Por Machado de Assis

 


É noite medonha e escura, 

Muda como o passamento

Uma só no firmamento

Tremula estreita fulgura.

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Fala aos ecos da espessura

A chorosa harpa do vento,

E num canto sonolento

Entre as árvores murmura. 

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Noite que assombra memórias, 

Noite que os medos convida,

Erma, triste, merencoria.

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No entanto ... minh'alma olvida

Dor que transforma em glória,

Morte que se rompe em vida

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Nicéas Romeo Zanchett 

domingo, 9 de julho de 2023

O BEIJO - Por Edmunhom Rostand - Cyrano de Bergerac


  O BEIJO 

Do Cyrano de Bergerac

Um beijo, mas, fim, que grande coisa é essa? 

Jura que de mais perto é jurada, promessa

Mais clara, confissão que quer confirmação. 

Ponto róseo no i da palavra paixão, 

Segedo que se diz à boa em vez da orelha, 

Instante de infinito em sussurro de abelha,

Com resaibo de flor íntima comunhão,  

Modo de respirar um pouco e coração,

E de provar um pouco, a flor dos lábios, a alma.  

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Nicéas Romeo Zanchett 

A MORENINHA - Por Bruno Seabra

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Moreninha, dás-me um beijo?

- E o que me dá meu senhor?

- Este cravo...

- Ora, scravo! 

De que me serve uma flor? 

Há tantas flores no campos!

Hei de agora, meu senhor, 

Dar-lhe um beijo por um cravo?

É barato; guarde a flor.

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- Dá-me um beijo, moreninha, 

Dou- te- um corte de cambraia, - 

- Por um beijo tanto pano!

Compro de graça uma saia!

Olhe que perde na troca, 

Como eu perdera co'a flor; 

Tanto pano por um beijo...

Sai-lhe caro, meu senhor. 

-Anda cá... ouve um segredo...

- Ai, pois quer fiar-se em mim? 

Deus o livre; eu falo muito,

Toda a mulher é assim...

E um segredo... ora um segredo...

Pelos modos que lhe vejo

Quero meu beijo de graça,

Um segredo por um beijo! ?

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Quero dizer-te aos ouvidos

Que tués uma rainha...

Acha.pois? e o que tem isso? 

Quer ser rei, por vida minha?

- Quem dera que tu quisesses ...

Não duvide, que o farei; 

Meu senhor case com ela, 

A rainha o fará rei...

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Casar-me? ... ainda sou tão moço...

- Como é criança esta ovelha!

Pois eu para beijar crianças,

Adeusinho, já sou velha. 


Nicéas Romeo Zanchett