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segunda-feira, 3 de julho de 2023

LODO DE ESTRELAS - Por Raimundo Corrêa.

 


Neste Cáspio sem marulhos, 

Sem macaréus, quieto, quieto,

Em vão brota o lodo infecto

Só venenosos tortulhos;  

.

E despovoa os casebres

Vizinhos, lançando aos ventos

Os miasmas pestilentos

Do carbúnculo e das febres; 

.

Em vão sobre ele bafefa

A peste, e , na superfície, 

Boa a nata da imudice

E zumbe a mosca-vreja;

.

Ferve o enxame dos imundos

Vibriões, filhos da lama,

- Deliciosíssima cama

Dos farroupas nauseabundos - 

.

Pelas margens e por cima

Torpes batráquios, coaxando, 

Sobre o charco pulam, quando

Acaso algum se aproxima...

.

Em vão; que Deus n]ao esquece

As coisas mais vis; portanto,  

Sobre esse pútrido manto

Batendo, o sol resplandece. 

.

Nele os olhos azuis cravam 

As estrela vacilantes, 

que em águas tais repugnantes, 

Sem repugnâncias se lavam; 

.

E também nele se banha,

Em horas mortas, a lua, 

Como a Willis toda nua

Das legendas da Alemanha.

.

Nem sempre ele espelha a peste, 

Que às vezes nele os fulgores

Dos íris e as sete cores 

Se estampam do arco celeste. 

.

Deus verte a flama siderea

Na escura e tabida vasa,

É a estranha infecunda brasa

Da podridão deletéria! 

.

Dá-lhe a luz, sem convertê-la

Na luz: pois jamais de todo

Deixa o lodo de ser lodo. 

E a estrela de ser estrela!

.

Mas basta a luz nele acesa, 

Pra que o barro vil reflita

Daquela flama infinita

Toda a infinita grandeza. 



 


 

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