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domingo, 7 de agosto de 2016

BALADA DA NEVE - Por Augusto Gil



BALADA DA NEVE 
Batem leve, levemente
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente? 
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim...
.
É talvez a ventania; 
Mas hà pouco, hà pouquinho. 
Nem uma agulha bolia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
.
Quem bate assim levemente 
Com tão estranha leveza 
Que mal se ouve, mal se sente?...
Não é chuva, nem é gente, 
Nem é vento com certeza. 
.
Fui ver. A neve caia 
Do azul cinzento do céu
Branca e leve, branca e fria...
-Ha tanto tempo não via! 
E que saudades. Deus meu! 
.
Olho-a através da vidraça. 
Pôs tudo da cor do linho. 
Passa gente e quando passa
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
.
Fico olhando esses sinais 
Da nobre gente que avança 
E noto, por entre os mais, 
Os traços miniaturais
Duns pezinhos de criança...
.
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los
Primeiro bem definidos, 
- Depois em sulcos compridos, 
Porque não podia erguê-los!...
.
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim! 
Mas as crianças, Senhor, 
Por que lhes dai tanta dor?! 
Por que padecem assim?!...
.
E uma infinita tristeza 
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa. 
Cai a neve na natureza...
- E cai no meu coração. 
.
BREVE BIOGRAFIA de Augusto Gil
Augusto Gil foi Advogado e um importante poeta português. Nasceu no Porto em 31 de Julho de 1873 e morreu em 26 de Fevereiro de 1929 Publicou: Musa Cérula; Versos; Luar de janeiro; O Canto da Cigarra, etc. 
Nicéas Romeo Zanchett



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