Breve história biográfica
Manuel Maria Barbosa du Bocage, poeta português, Nasceu em Setubalal a 15 de Setembro de 1765 e morreu a 21 de Dezembro de 1805. Cursou os estudos militares, e como guarda-marinha partiu para a Índia, fazendo-se notar em Gós pela virulência dos seus versos. Destacado para Damão fugiu para China, indo ter ao fim de muitos trabalhos a Macau, e regressou a Portugal em 1790. As lutas da Nova Arcádia, pela exclusão que lhe infligiram o gênio de Bocage. Em 1797 foi preso por autor de "Papeis ímpios e sediciosos".
Entre esses papéis ímpios achados na habitação de Bocage, os principais eram as poesias conhecidas pelos nomes de " Vida da Razão e Pavorosa". Dotado de raras faculdades, esbanjou o seu talento em improvisos. Acabou traduzindo poemas didáticos franceses. Deixou Odes, Elegias, Canções, Sátiras, Epístolas, etc., mas são sobretudo os seus sonetos.
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, médio de altura,
Triste de fachada, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
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Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelosa infernais letal veneno:
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Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
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Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdade
Num dia em que se achou mais pachorrento. .
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Receios de mudança no objeto amado
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Temo que a minha ausência e desventura
Vão na tua alma, docemente acesa,
Apontando os excessos de firmeza,
Rebatendo os assaltos de ternura;
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Temo que a tua singular candura
Leve o tempo fugaz nas asas presa,
Que é quase sempre o vício da beleza
Gênio mudável, condição perjura;
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